Lá ganharam, vá, parabéns.
É evidente que a vitória do Benfica não vai aumentar a produtividade nacional.A produtividade nacional é, aliás, uma coisa que aumentaria, estou certo disto, se se falasse menos nela como se fosse um problema dos outros, "dos que não produzem".
Já repararam que quem se queixa da falta de produtividade nacional aparece sempre, quando a ela se refere, com uma das mãos no peito, enfeitando-lhe (ali pela zona do esófago médio) uma expressão facial que varia entre o desdém e a epopeia? Nunca é com eles, eles produzem. E produzem, evidentemente, de forma nacional! Não se perecebe bem o quê, mas eles têm essa certeza, senão não estavam tão chateados. Mas isto é outra história, não interessa hoje. E, a mim, nem me interessa nunca.
Sou funcionário público, pertenço a essa chusma de alarves que, por definição modernaça proferida por indivíduos de variável flacidez, não produz um corno. Vá lá que se reproduz, ao menos, que eu tenho dois filhos. Para os mais dados à anedota fácil, devo dizer que a minha mulher também é funcionária pública. E devo dizer que gosto de esmurrar quem é dado ao anedotário fácil, porque me chateiam os imbecis (por um lado) e porque, ao menos aqui, sou eu que defino quem eles são (isto por outro). Isto não é, de facto, a casa da mãe Joana.
Interessa-me agora que o Benfica ganhou o campeonato. E que os benfiquistas estão felizes. E eu, que não tenho especiais motivos para me sentir contente, percebo-os bem. Como perceberia os portistas, se tivessem sido eles a ganhar. E como os benfiquistas e os portistas, estou certo, entenderiam a minha alegria, se me conhecessem em 2000, quando fizemos a festa em Paranhos. Ou parte deles, enfim...
Era aqui que eu queria chegar.
Que fundas razões poderão determinar aquilo que se passou (ou está a passar-se) na Avenida dos Aliados, no Porto? Lembro-me de ter visto festejos, nesse mesmo local, de milhares de sportinguistas, quando calhou ganharmos. Em 2000 e em 2002. Sem grandes contra-manifestações, que me recorde.
Isto não é só futebol. Este tipo de coisas ultrapassa largamente o jogo da bola. Mas a explicação, julgo conhecê-la. Guardo-a para mim, poupo-vos a ela, porque é tão fácil que se mete pelos olhos dentro, dispensando-vos de "ovos de colombo". E não tem que ver com o antigo regime, com nada dessas coisas que por aí vou lendo, às vezes com surpresa.
É muito mais simples e (visto daqui) triste que isso.
Bom. Como manda a boa praxis, parabéns aos benfiquistas. Sobretudo àqueles que os merecem, que serão aí uns 50%. Admito o mesmo raciocínio percentual para os adeptos do Porto, do Sporting e do Boavista. E mesmo do Paroquial de Fátima
Os restantes 50% devem andar na rua, à porrada ou à procura dela, por causa do futebol ou doutra merda qualquer. Parte deles, admito, terá ficado em casa a escrever alarvidades. Admito piadas fáceis a este respeito.
É de respeito que se trata. Pois. E o respeito é muito simples e bonito. Devia, até, ser natural. Embora fresco não caia mal, também. Mesmo a quente. E quando não o há, impõe-se que se imponha. Não é violação de direitos: é respeito. Não é sisudez de telhudo, é saber sorrir de verdade.
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