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1.4.05

Esguichos de besugo

1 - Ter notícias do Alonso é bom. Sou amigo dele, ele é meu amigo, ambos sabemos disso. Acidentes que acontecem.
Excelente táctica, meu caro, essa variação quase pavloviana em que utilizas livros e DVDs. Vou adoptá-la, caso não cobres caro pela ideia. É que um dos meus filhos corre o risco de, em lhe sendo perguntado se já leu um livro, responder que sim, "uma vez li um, tinha capa verde...".
Claro que não "marro" contigo, pelo menos não "marro" muito: como se pode "marrar" muito com quem "marra" pouco?
Tu próprio te atreveste a dizer-me, num dia em que te encontravas plácido: "besugo, tu não passas dum conservador!". E, se bem te lembras, acabámos por concordar que sim. É o nosso problema: concordamos vezes de mais, mesmo quando argumentamos espaventos. Sobretudo tu, claro.
Gostei de saber que alguém conseguiu manter-te calado e de boca aberta durante 80% dum "tempo qualquer". Abençoada criatura! E que, no fim, tiveste fome. Descansa, não digo mais nada.
Ou, por outra, digo:
Ainda tens a mota? Ainda é aquele "side-car" com motorista, em que tu vais na "caixinha", de capacete, a fingir que guias um kart(*)?
Um abraço, pá! E não digas que vais daqui.

(*) De facto, o Alonso chegou a figurar, na categoria "pilotos rápidos", num semanário dedicado às corridas de automóveis. Eu vi. Salvo erro, tinha sido em Évora. Corrige-me se estiver errado, Alonso, por favor. Depois, participámos numa prova juntos. Foi depois disso, cuido, que ambos percebemos que a maior parte das notícias que saem nos jornais desportivos são "compradas").

2 - Morreu a Schiavo. Pronto. Não há mais nada a dizer que valha a pena. Nunca valeu a pena, aliás, pelos vistos: há gente que gosta de pensar baralhando-se. É a minha opinião.

3 - Sobre a relação "médico-doente", há, quase, tratados. Não é fácil. Não é assim tão linear, Lolita e Alonso.
Depende, mesmo, do sítio em que ela ocorre. Pensem no mesmo médico e no mesmo doente. Se ocorrer na urgência estabelece-se, entre as mesmas pessoas, uma relação diferente da que aconteceria numa consulta programada. Ou na enfermaria. Ou no bloco, onde decorrem relações mais... sonolentas.
Eu sei lá. Sei que é diferente. Há a questão do tempo, das pessoas e do tempo, quanto mais pessoas, menos tempo.
E há as pessoas, o doente, o médico, os outros. Há ali tudo.

Depois, há, ainda, o resto. Não me apetece falar disso agora. Há sempre o resto. Estou, ainda, de férias. Um restinho delas.

Quando um doente me procura sei, desde sempre, que quer a minha ajuda para resolver um problema. É isso que tento fazer: resolver-lho. O melhor que souber, se puder e souber.

Não tenho ideia de ter alguma serventia, como médico, se nenhum doente me procurar. Ou se, procurando-me, não me empenhar na resolução do que o apoquenta. Sou esbelto, como toda a gente sabe, mas sei que ninguém me procura, no hospital, por esse detalhe que, humildemente, vos admito. Tendes razão, sim, sou um belo homem. Disse-mo minha mãe, ela não me mentiria. Mas não vem ao caso. Não agora.

(Momento de pausa, para Lolita, que me conhece, parar de rir).

Tenho noção que a minha bata é uma farda de trabalho, que é suposto usar por motivos higiénicos, para mim e para os que me procuram. Não é um distintivo. O distintivo, como se fosse um "xerife" das minhas histórias do Matt Dillon (sem ser aquele actor, o outro, o da colecção "Falcão"), uso-o na lapela, com o meu nome, sem "dr" atrás. Não sou doutor, aliás. Nem, atrás, nem à frente, nem por dentro de mim. Nem por fora. Uso gangas e camisas aos quadrados, barbeio-me pouco. Lavo-me é muito. E gosto de perfumes, cheiros e toques. De tocar. Isso gosto.

Ou, por outra, às tantas sou doutor. É costume sermos aquilo que nos chamam, para não complicar. "Doutor besugo". Boa malha, até sorri, escancarando as guelras.

O resto, aquele resto de que falava ali em cima, pensando bem, é conversa.

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