Apetece-me escrever ...
Só porque me apetece. Nas minhas assíduas leituras deste blog já por várias vezes alinhei mentalmente umas ideiazitas (ora sobre o Freitas, ora sobre o "mar adentro", o "million dollar baby", o Clint, a Eutanásia, o Amenabar e a Garner, ora sobre o facto de o besugo marrar com todos os que marram com ele ... menos comigo ... e a decorrente sensação que tenho de que ele não me leva a sério, sei lá eu.Mas hoje não tenho absolutamente nada para dizer. O Sócrates não inpira escritos, o Sampaio não inspira nada, do aborto já falei que chegue, da eutanásia não falei mas também não é assunto que me incomode. Não vou ao teatro, não tenho visto TV, lá vou lendo o meu "Público" diário com o café matinal mas já nem o"Inimigo Público" à sexta tem a piada que costumava ter.
Sobra que à conta dos DVDs do Tintin (no "Publico", à sexta feira) fiz um trato com o meu filho. Ele lê o livro durante a semana e eu compro o DVD. Ele não lê, eu não compro. E assim consegui, finalmente, que ele começasse a ler. Até porque, como o trato é só com ele mas o DVD é para ser visto (também) pelas queridas manas, conto com o apoio das ditas em que ele TEM MESMO que ler o livro até sexta feira. A mais velha sabe ler, mas lê que chegue e não me dá cuidados nessa matéria, e a mais nova (dos que já vêem DVDs, porque mais novas há ainda) ainda não sabe ler, portanto não há trato possível com ela (aliás, não há trato possível com ela em geral, é um pedacito de mau feitio que só visto).
E pronto, quase sem querer escrevi três parágrafos. Que com este passam a quatro.
Mas, para que não digam que me limitei a "encher" este nobre espaço de vacuidades desinteressantes, aqui vai uma reflexão alonsiana, inspirada no último texto do besugo, que por sua vez se inspirou no que outrém escreveu.
A relação médico-doente não é diferente de qualquer outra relação, no sentido de que, se existe, é porque há uma razão que a determinou. Não há relações sujeito-sujeito, há é relações entre pessoas, relações essas que têm causas, início, desenvolvimento e fim, sempre revestindo especificidades impossíveis de "normativizar".
Da curta e besugal citação depreendo que o autor citado acha que os médicos assumem, amiúde, uma postura paternalista face ao doente. E que acha que isso deve mudar. Eu, por mim, acho bem. A última vez que estive face a face com um médico estive 80% do tempo com a boca aberta e sem poder falar, enquanto ela (porque era uma médica) se entretinha a brocar alegremente alguns dos meus dentes, ao mesmo tempo que comentava a dificuldade de estacionamento do respectivo veículo na zona do consultório e que eu que é que tinha sorte por andar sempre de mota. E eu pensava, enquanto a porra do aspirador de saliva me secava a garganta e a gengiva entumescida com o anestésico: "Aqui está. Quando eu puder fechar a boca vou-lhe paternalisticamente dizer que talvez fosse melhor ela comprar uma mota ou então passar a andar de transportes públicos, até porque tem uma estação de metro aqui à porta".
Mas, (premonitóriamente porque não tinha lido este texto), achei que o paternalismo nas relações médico-doente deve ser evitado e por isso evitei este discurso condescendente e verdadeiramente paternal e no fim limitei-me a perguntar, com língua de trapos: "Sra. Dra., não tive tempo de almoçar antes de cá passar e estou cheio de fome. Daqui a quanto tempo é que posso comer?"
Foi uma pergunta típica de uma relação sujeito-sujeito. Fiquei orgulhoso do modernismo da minha atitude. E, para terminar tudo isto em beleza, apertei-lhe a mão, com um brilho de auto-satisfação nos olhos (disse-me a assistente, que eu não vi). Depois, fui pagar a conta.
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