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15.4.05

A averiguação das evidências

O Alonso informou-me hoje que tinha dissertado aqui sobre uma série de evidências evidentes. Curiosa, vim ver e inteirei-me delas.

1. Não vi qualquer ambiguidade ou subliminarização na resposta de Jorge Sampaio. A tal Jessica abordou-o e ele respondeu, se não estou em erro, uma coisa deste género: "todos sabem o que penso sobre o assunto e penso que a lei deve evoluir". Não vejo como podia ser mais claro do que isto. Por outro lado, a opinião sobre o aborto não é propriedade, que eu saiba, de nenhum partido político, colectividade, associação recreativa ou semelhante e o seu debate não é privativo de nada e de ninguém, seja em privado ou em público. E, Alonso, é absurdo ter de mostrar neutralidade num tema cuja importância, de um ponto de vista ético, é bem maior do que garantir que o PR pratica actos de favorecimento. Quanto ao tema "hipocrisia", acho que erraste o alvo. Hipocrisia, neste contexto, tem-na praticado quem defende a manutenção da lei actual fazendo de conta que não se apercebeu que a prática da IVG não depende da lei mas sim do grau de desafogo financeiro para poder deslocar-se a Espanha.
Dou-te zero, nesta evidência.

2. Eu admito a possibilidade de que as declarações de Jorge Sampaio tenham influenciado alguns eleitores; mas não tenho dúvidas de que essa influência teria sido muito menor se o CDS-PP não tivessem feito aquele estardalhaço todo. O Bloco de Esquerda, o PCP e a Maria Teresa Horta deviam mandar-lhes um cartãozinho a agradecer.
E acrescento que não me parece exagerado afirmar que, num tema como este, independente e acima de interesses políticos e partidários, toda a gente possa fazer campanha. Incluindo o PR e o D. Urtiga.

3. Respondida na não-evidência nº 1.

4. Completamente de acordo. Com um complemento: o PR tem os mesmos exactos direitos e obrigações a respeito do assunto. Um representa a comunidade católica; o outro a comunidade laica. Unidas por uma nacionalidade comum e por um dilema ético comum.

5. Eu, do D. José Policarpo, só reclamo do facto de ter deixado aqui tudo nas mãos do D. Urtiga, que se apressou, mal o apanhou em Roma, a mostrar ao mundo que gostava de se chamar Cardeal Ratzinger. No restante, gosto do progressismo do D. José e até o acho bastante papabile.

6. Não extrapoles, Alonso. Onde é que retiras, do que disse o Jorge Sampaio, qualquer apologia, ainda que longínqua, da "coisificação" do feto? Vês o que eu te dizia sobre a demagogia subliminar?

7. Claro que não ganharam os abstencionistas. Claro que tu percebeste o que eu quis dizer. E claro que, sobre este tema (o último referendo) estás com falta de assunto. Três evidentes evidências.
Acho, também, que quem se ressentiu das declarações de Jorge Sampaio está com receio de que, desta vez, ganhe o sim.

8. Asseguro-te que aqui no Porto também se fala do "direito à barriga". Aqui também há seguidoras do Bloco de Esquerda e da Maria Teresa Horta. Embora, quero crer, menos do que em Lisboa... assim como há menos benfiquistas e/ou sportinguistas.

9. Sempre que colocares a questão do feto na primeira linha da discussão, Alonso, não vamos poder discutir. Eu não discuto, sequer, essa tua "colocação" e, se leres com honestidade o que eu sempre disse sobre o aborto, não vês uma palavra minha a desmentir-te.

10. Meia evidência. A do besugo, claro, indiscutível. A do governo Sócrates, risível. Um governo que põe o país durante dois meses a discutir se as aspirinas devem ou não ser vendidas nos templos do consumo está longe de ser um governo sóbrio. Está mais próximo do...bizarro.

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