Uma frase, o que é?
Há blogues de frases curtas. Eu nunca gostei muito de frases curtas, que eu sou barroco. Ou, por outra, às vezes gosto. Nessas alturas, em que gosto de frases curtas, gosto de muitas frases curtas seguidas. Sou uma barroca sucessão verbal de sés românicas. É melhor que ser gótico, detesto ogivas.“Só sei que nada sei”. É um exemplo duma frase curta. Lapidar. Antiga.
Uma merdice duma frase. Desde o sexto ano do liceu que todos os alunos com mais de 47 de QI (hoje em dia temos de reconverter isto para a “inteligência emocional”, “I.E.”, por causa dos histéricos: os histéricos também querem uma escala que lhes meça a “DNH,EV”, leia-se “densidade neuronal histriónica, vírgula, em velocidade”) sabem que se afirma, ali, naquela frase, a sabedoria de duas coisas. Não, apenas, de uma. Vale que o idiota que a disse (nunca escrevia, o pobre) já feneceu.
Esta frase anterior foi longa. Também gosto de blogues de frases longas. Eu sou assim: tanto gosto de marés altas como de andar às conchinhas.
Uma frase longa, atenção, carece de pontuação cuidada. Não há frase longa nenhuma, por outro lado, isto é seguro, que resista aos excessos de pontuação. Ou à falta dela. De pontuação.
É preciso saber escrever frases longas. A escrita longa, se pouco escorreita, desfavorece o pensamento mais cristalino, empastelando-o. Apetece não ler o pensamento. Estão a ler, não estão? Repararam que, vírgula, até aqui, vírgula, tudo está como “graças a Deus”, vírgula, mesmo as vírgulas e as aspas?
Uma frase o que é? Uma frase é uma vírgula aspeada do pensamento. Se a gente estiver a pensar enquanto morre, reticências, é um ponto final aspeado. Mais nada.
Que admiração.
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