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21.2.05

Notas sobre a noite eleitoral

- Marcelo e Judite não combinam. Marcelo não precisa de protagonistas, basta-lhe um Júlio Magalhães a babar pela sabedoria do professor enquanto solta risinhos e sugere motes para comentário que nem chega a transformar em verdadeiras perguntas. A Judite é esperta, bem informada e nem sequer faz parte do clube de fans de Marcelo. Em televisão, isso não resulta. Sugiro, assim, à RTP que contrate o Júlio em part-time. Ou, o que vai dar no mesmo, um macaco daqueles que abanam a cabeça quando se metem moedas no cachaço.

- Não pude deixar de reparar nas gravatas intensivamente vermelhas do Lobo Xavier, do Seguro (o Tó Zé) e do Ferro Rodrigues. Por falar em Ferro Rodrigues, o que faria ele pela maioria absoluta do PS que Sócrates não fez e que, ainda assim, lhe veio parar às mãos? Basta pensar. E é pena.

- António Barreto foi, de longe, o comentador mais lúcido de todos os que estiveram nas três estações. Ninguém o bate, naquela serena eloquência. Ou inteligência. Ou ambas.

- Vencido pela insistência (deixa! mas deixa, vá!! mas eu quero!! pronto, tábem!!), o Louçã deixou a Ana Drago falar à imprensa quando se soube da vitória da esquerda radical. E a Ana lá foi, de timbre afinado, dicção muito cuidada e semblante determinado, qual Maria da Fonte portátil. Só se enganou quando - helás! - chegou à virança.

- Alberto João Jardim responsabilizou setenta por cento dos portugueses pela vitória do PS. Referia-se aos cubanos, claro, que na ilha correu tudo de feição. Eu, pelo menos, já sinto o peso nos ombros.

- Santana Lopes partiu só para esta aventura, lançado às feras pelo partido. A dada altura, deu-se conta de que não lhe restava outro rumo senão o de seguir em frente, ainda que a derrota se adivinhasse ao longe. Hoje, humilhado pela derrota que sempre foi certa, perdeu a oportunidade de se demitir sob o olhar comovido das suas indefectíveis apoiantes. Será inevitavelmente corrido pelo partido, em condições bem piores e perdendo a oportunidade, que hoje teve mas que não se repete, de ser uma Evita vitimizada.

- Os barões, notáveis, históricos, carreiristas do aparelho, enfim, todos os sociais democratas de relevo que se puseram de fora do santanismo são uns valentes irresponsáveis. Muito mais do que Santana Lopes. O castigo são as trevas dos próximos quatro anos de que nem Cavaco Silva, quando se (se) tornar presidente, os salvará.

- Marques Mendes já espreita, sentado na cadeira do congresso. Até o Barreto acha que ele tem tudo para ser líder. E o Aznar também tinha menos de um metrisessenta.

- O Bloco duplicou os votos. Mas o Louçã sabe que uma boa parte deles eram do PS e que a ele voltarão, mais tarde ou mais cedo.

- Jerónimo ganhou sorrindo, apenas. Sorri bem. Pelo menos, sorri bem.

- O país agora é de esquerda. Mas a alternância é um dado indesmentível e as pessoas tendem mais a votar em partidos coloridos, líderes simpáticos, ondas de luta e canções bonitas do que em ideologias. Daqui a quatro anos, a direita renascerá das cinzas a que hoje se reduziu e festejará, como hoje festeja a esquerda. É assim. O país é assim.

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