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20.2.05

Falando de convicções

Votar com a convicção de que se está a votar bem, nestas eleições, é tarefa árdua. Nos últimos tempos, todos fomos vítimas de dose tão excessiva de informação que acabámos por perder a inocência. Falamos de política num tom misto de humor satírico e de desencanto pessimista e já ninguém acredita em mudanças milagrosas nem em políticos descomprometidos. Votamos, portanto, sem qualquer fervor, daquele fervor que se tinha quando a direita enfrentava a esquerda (e vice-versa), quando se sentia a importância genuína de um voto, de cada voto a construir uma escolha, determinada e firme, que tinha tanto de contra como de a favor. Rejeitava-se e aderia-se, numa dialéctica perfeita e bem definida. Hoje, aprendemos a condicionar-nos contra a adesão e habituámo-nos ao nosso estrito discurso da rejeição.

Uma ideologia supõe um ethos social, a construção de uma sociedade justa, no fundo, a proposta de um projecto de vida. Que seja ou sedutor ou intolerável. Eu sinto involuntária simpatia por partidos pequenos, que não ultrapassam o zero vírgula qualquer coisa por cento dos votos porque defendem modelos de vida tão distantes do nosso que nos assustam. Nascem e sabem-se pré-destinados a manter-se à margem do mainstream partidário. E sabem que se manterão sempre assim, pequenos e ignorados porque... impossíveis.

Eu só decidi quando estava perante o boletim de voto. Ali, em poucos segundos, tal como se faz quando se percebe a morte eminente, observei de fora toda a minha vida, olhei para a lista de partidos que tinha na minha frente e decidi que não queria arrepender-me mais tarde. E, assim, desenhei uma cruz no primeiro partido da lista, dobrei a folha e vim embora. Repeti uma experiência, construí sabedoria. Própria, só aproveita a mim. Mas segura. Saí satisfeita.

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