Mentiras de besugo
Marques Mendes avançou. Vi a entrevista com Judite de Sousa, ele a avançar.Houve vários "frissons" pequenos. O maior deles foi a questão sobre Durão. "Eu disse-lhe". "Claro que era uma honra, uma decisão difícil, mas eu disse-lhe".
Deve ter dito. Pode até não ter dito, mas é o tipo de coisas que ninguém desmente. Portanto: ele disse-lhe.
E ele foi embora, mesmo assim. Mesmo dizendo-lhe que não fosse.
Eu tinha razão. O eixo Durão-Portas-Santana tinha, mesmo, pouco (con)senso. E o resultado final desta pegada putice, a derrocada, não tem nada a ver com "a confiança dos investidores", nem com "ziguezagues na política económica", nem com a tutela da famigerada "pasta das finanças", nem com "encostos à direita", como disse Marques Mendes. Isso colhe nas tertúlias analíticas em que se colhe o que se quer, porque se semeia o que se quer colher. É o onanismo tertuliano. O unanimismo tertuliano. "A voz para dentro".
E colhe, evidentemente, entre os imbecis mais pobres do ponto de vista neuronal e "euro...nal", que persistem no slogan dos acéfalos (equivalente ao do "eçelebê" no que respeita ao pensamento político) que é aquela idiotice de "o que é preciso é que o país vá para a frente".
Querem pisar uma jangada veloz, é o que é, uma coisa qualquer que se mexa, mas eles com as pantufas em cima. Tanto lhes faz que sejamos uma nova ilha à deriva, algures entre a Espanha e os Estados Unidos, uma espécie de "estamos agora a passar por São Miguel, mas daqui a bocado vamos estampar-nos contra aquela merda alta com a tocha... aquela estátua...Força, aí vamos nós, civilização!", como um grande calhambeque de dois andares, avermelhado, rodando aos tropeços pela Espanha e pela França acima, até à Mancha. Daí, vamos a nado, ou de "ferry", ou pelas catacumbas, interessa é andar para a frente, cantando e rindo, "p'rá frente Portugale!". Mesmo que andar para a frente (assim às arrecuas) nos leve àquela coisa chuvosa e cheia de lameiros, habitada pelo povo mais feio do mundo, que se chama Grã-Bretanha. Eu digo: ide, feiosos, penetrai-vos de donuts ou de scones, alambazai-vos à fartazana do que melhor vos anafar o gosto e o cagueiro. Eu fico antes aqui, que gosto mais. Sim?
Não. Recentremo-nos. Caramba. Isto é sobre Roterdão, no fundo.
A sério. Isto que acabou agora era uma xaropada política. Não passou de um chá de má qualidade, servido fora de horas, destinado à irremediável e calmante vómica. Uma mistela intragável. Um "charolo aguado e lorpa", adoçado, antes e depois da vómica, pela voz melosa de Durão. É bom que se fale, sempre, apontando-lhe indicadores lúcidos, desse "José? Sou Eu!..." .
Um José que se topava, à légua, mesmo antes de anafar, que era anafar que queria.
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