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27.2.05

A maldição sebastianista

Acabo de ler num jornal online (que nem interessa dizer qual, porque todos falam, neste tema, da mesma forma) que o "Mourinho ganhou a taça da Inglaterra". Não esqueço que é natural (e até expectável) que, à força da mistura entre o universal orgulho das nações pelos feitos dos seus filhos e a nacional-parolice sobre os descendentes de Amália e Eusébio, se puxe a brasa à nossa sardinha e que, com isso, nos apropriemos das vitórias alheias - neste caso, britânicas - para engrandecer os nossos.

Mas, caramba. Aqui é diferente. O Mourinho ofusca tudo e todos, onde quer que esteja. Foi o Mourinho que ganhou a UEFA, que ganhou a Champions League, que ganhou a Super-Liga, que perdeu (até a derrota é dele, veja-se!!) a Taça de Portugal, que levou o Porto onde nunca a mão humana o havia levado. Foi? O que faz impressão é que se tenha como certo que o mérito passa todo por ele e nenhum pela equipa, pelos adjuntos, pelos dirigentes. Nem sequer pelo público. Como se o Mourinho fosse titular de um gene, raro, de timoneiro invencível que o torna tão essencial ao destino colectivo que, entre as causas e os efeitos de qualquer resultado, ele está lá, invariavelmente.

Ter Mourinho por treinador é, para qualquer equipa, tão perigoso como tornar-se adicto à heroína. Enquanto dura, é o paraíso; quando acaba, são as trevas. O Chelsea, que neste momento se delicia na Ilha dos Amores, há-de sucumbir, mais tarde ou mais cedo, ao reino das trevas por que tem passado o Porto. Não há Fernandez, Couceiro ou, sei lá, Alex Ferguson que resista à maldição mourística. E nós, que tendemos vertiginosamente para o culto do sebastianismo (do rei dos perteguezes de Pertegale, sim, esse mesmo) continuamos a espreitar as vitórias do ditoso treinador, desejando que ele, como o outro, um dia regresse para ganharmos um campeonato dos "a sério". Para que possamos, durante décadas a fio, passar às gerações vindouras as bravuras lusitanas. Ganhar é preciso. E a história dos cinco violinos está gasta; já se conta há cinco décadas.

Não será ousado afirmar que há quem sonhe com uma Dulce Pontes tão prestigiada como a Monserrat Caballé. Quem sabe? Deixem-na tornar-se um bocadinho ainda mais anafada e, entretanto, aguardemos.

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