blog caliente.

3.12.04

Tinteiros cheios

Às tantas sem saber o Abrangente fez-me o melhor dos elogios. Chamou-me queiroziano. Um queiroziano é um admirador do único Queiroz que houve de jeito. Eu sou um desses abencerragens.

Divido-me sempre, nessa querela bárbara que é a discussão dos topos de gama, com Camilo. Mas encontrei sempre em Eça ( é o Queiroz de que falo) melhor luz e mais certeiro batimento para o meu ritmo (pouco) luminoso; que isto dos sentidos (o ver, o ouvir...) é muito feito de dissonâncias e antíteses. Uma música difícil de explicar.

Camilo é mais ao jeito dum amigo meu (o Braga Amaral, olá Zé!) que tem a mania de cismar que a vida são quase só os amores. Ainda há-de escrever neste blogue, um dia, quando eu lhe conseguir mostrar que aqui se escreve pequena mas honesta literatura.
Eu acredito nisso dos amores como sou obrigado a acreditar noutras coisas: uma desgraça, este determinismo que a gente disfarça com a inevitabilidade grácil de chamar destino ao que nos vem de cima.

Seja como for, um blogue pode ser um sítio em que se escreve só porque se tem vontade. A actualidade política ou a "realidade" desportiva (não há mais nenhuma "real" actualidade no mundo, a não ser os cataclismos, mas isso também existe na política e no desporto; poderosa razão a minha, portanto) não são as únicas razões do mundo para a gente escrever. Pode escrever-se apenas por não conseguirmos segurar a pena nos limites do tinteirozinho fornecido (com desconto) para fazermos os nossos ofícios e as nossas declarações. Isto é verdade. Pode escrever-se só para agradecer escritos sobre coisas que escrevemos para responder a escritos que foram escritos apenas para responder a escritos.
Eu explico este mamarracho circular em itálico: é que ando a reler (li-as no Algarve, mas mal, que a Lolita estava sempre a gozar comigo) as cartas de Eça; e percebo que Eça, grande internauta, fomentou um "forum", no seu tempo. Uma espécie de "chat", até. Demorava era mais, demorava o tempo duma pena, dum papel, dum tinteiro, dum sobrescrito ... e dum selo.

O Abrangente, que é um bom blogue virado para fora, deve ter-me notado o gosto desajeitado pela comunicação e decidiu enternecer-me.
Conseguiu.

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