blog caliente.

3.12.04

Xiiii ...

Tanta coisa para comentar, tanto fel encontro aqui derramado ... torna-se difícil.

Antes de mais, cumpre referir as extraordinárias palavras da lolita (mais de mel que de fel) sobre o Fidel. Fosse eu um "anti-ditadores primário" e cascava-lhe forte e feio.

Como não sou (é o Salazar que não me deixa sê-lo), deixo-me estar.

Pensando bem ...

... deixo só uma farpazita: não sei se o homem é megalómano, mas que é nepotista não tenho dúvidas. O mano dele que o diga.

No mais, o retrato feito é divertido: se não o chatearem, ele até reforma o regime. Porque, lá no fundo, ele nem é mau homem. Os presos políticos e os fuzilados foram-no só para mostrar aos EUA que não é com vinagre que se apanham moscas. Recado lolitiano ao mundo: Mandem mel para Cuba, que o Fidel faz - pelo menos - o que fez o Pinochet: um referendo à sua própria permanência no poder.

O problema é que o Castro é um melhor e mais eficaz ditador do que o Pinochet o era. À volta dele ... tirando o mano ... é o deserto. E sociedade civil, pelo menos comparável à chilena no fim do "consulado Pinochet", é coisa que não existe em Cuba.


Passemos ao fel, especialidade besuguiana quando escreve sobre pessoas de que, manifestamente, não gosta.

O alvo recente foi a dupla Santana-Portas, com especial "dedicação" ao último destes dois.

Eu tenho a dizer que me parece neste momento óbvio que o Portas é, de todos os líderes partidários, o melhor. De longe. E isto nem é dizer muito, considerando o nível médio da nossa classe política.

É claro que posso estar enganado nesta apreciação. Em todo o caso, a verdade é que o Portas lidera um partido político pequeno, representante de uma franja eleitoral feita de pessoas pouco ou nada comprometidas com o "sistema" ou "centrão" político/económico/clientelar que o nosso omnipresente Estado, mais todas as suas benesses e comendas, vai sustentando.

E, portanto, lidera um Partido condenado a resultados eleitorais exíguos. Nada que te preocupe, besugo, escusas de ser tão verrinoso.


Já a lolita lamenta-se de que o centrão a que pertence é liderado por medíocres. E diz que "o que remanesce são bloquistas e populares".

Acha que eles são coloridos (?) e inconsistentes. Parece mesmo que os viu por aí aos gritinhos e, no curto parágrafo que lhes dedica, ainda consegue juntar os adjectivos "patetas", "empatas", e fala da sua "essencial inutilidade".Todas as "gâmetas" e "mórulas" do besugo empalidecem perante tamanho exercício de vituperação intensiva.

Por um lado, e sendo eu um fascistoide que vota CDS/PP (se bem me lembro, e segundo uma sugestiva imagem do besugo, todos os que votam como eu fazem-no aos saltos e a cantar com voz esganiçada), ressinto-me da mistura que os adeptos do "pós-centrismo e serôdio castrismo" fazem entre os que votam como eu e os "bloquistas".

Misturar tais coisas é como dizer que fora do "centrão", são todos iguais. Mas a verdade é a contrária: dentro desse "centrão" é que são todos iguais. Tudo gente que não tem um pingo de convicção na defesa de coisas que não sejam verdades comuns e postulados politicamente correctos. Vivem num amodorrado conformismo com o sistema capitalista, que misturam com votos pios de solidariedade social a prestar pelo Estado e crónico descontentamento com o mesmo Estado. Gerem políticas fiscais e políticas sociais sem visão estratégica, sem acreditar em nada que não seja buscar uma política com que toda a gente concorde. Por isso, gerem défices, queixam-se do irmão gémeo que os antecedeu no Governo e que fez a mesma coisa que eles fariam nesses anos. Mais SCUTs, menos propinas, MUDAR ESTRUTURALMENTE ALGO é coisa em que nem pensam. Polémicas? Que horror, nem pensar, só radicais é que pensam nisso. E eles não são radicais.

Pensando bem, eles não são nada ...


Ainda dou um exemplo, para alegrar quem teve a paciência de ler isto tudo. O do debate ontem na SIC notícias, entre o Augusto Mateus (Ministro da Economia do Guterres) e o Mira Amaral (Ministro da Indústria do Cavaco).

Augusto Mateus defendeu que a administração pública tem que ser profundamente reestruturada (oh, nunca ouvimos falar em tal coisa, o homem foi verdeiramente fracturante). Porquê? Porque é grande demais, tem baixa produtividade e sofre de crónica ineficiência. Tudo novidades que nenhum político até hoje tinha tido a coragem de denunciar.

Portanto, se ele fosse ministro havia despedimentos em massa na função pública, reformulação integral das regras relativas a progressão nas carreiras e, quiçá, alguma precaridade de emprego para os trabalhadores do Estado. O problema ... é que ele já foi ministro. E foi o que se viu. Nada de especial. Nada, em suma.

O Mira Amaral, por seu lado, disse que as empresas estão asfixiadas, a produtividade é baixa, a competitividade é baixíssima, a nossa economia é uma lástima. E que, embora baixos quando comparados com os outros países da Europa, os salários em Portugal são altos quando considerado o nível da nossa economia. Em suma, vivemos acima das nossas possibilidades, e isso só acontece porque o Estado está cronicamente deficitário. Vindo de quem tem uma reforma milionária paga pelo Banco do Estado, eu nem comento ...

Em conclusão: vocemecês queixam-se da mediocridade dos políticos do PS e do PSD. Pudera, digo eu. Quem para lá for com a intenção de pôr em prática uma política consequente (qualquer que ela seja) cedo percebe que não pode. E ou vai à sua vidinha - se a tem, fora da política - ou fica. A gerir défices, a muscular vaidades e a coleccionar penachos, enquanto espera pela reforma. Que alguém há-de pagar.

É o tipo de pessoas que aprecia títulos "nobiliárquicos" destes tempos, género o velhinho "ex-mulher do ex-ministro das ex-colónias". Ou o mais recente "Adjunto do gabinete do Subsecretário de Estado Adjunto do Secretário de Estado Adjunto do Ministro Adjunto e ... (fazer pausa dramática para aumentar o efeito) ... da Presidência".

Tenham um bom fim de semana.


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