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2.12.04

O estado da nação

A mediocridade recente foi tão marcante que ressaltou as virtudes da seriedade e da competência, mesmo quando a seriedade é tão exacerbada que causa cegueira. Subitamente, Cavaco Silva parece-nos agora mais íntegro do que nunca e, portanto, como o homem certo para nos tirar da crise.

O populismo da coligação deixou-se ofuscar pelo sentido de estado. Jorge Sampaio, afinal, tinha tudo pensado desde início e quis que tudo se passasse sem qualquer margem para conjecturas. Não há-de ter sido nada disto, com toda a probabilidade. Mas em política importantes são os fins, não os meios. Maquiavel está mais actual do que nunca e Sampaio agradece. Sai pela porta grande, de Janeiro a um ano.

Marcelo Rebelo de Sousa transformou-se num herói épico, uma espécie de Pelágio intelectualizado que soberanamente irá manter-se à tona do tumulto eleitoral, até que, um dia desses, lhe reconheçam virtudes políticas que até agora ninguém lhe reconheceu.

Estranhamente, a nenhum deles sucedeu o milagre da purificação. Só beneficiaram do efeito "eu sou o oposto desta palhaçada toda" que SL desastradamente lhes ofereceu, mas continuam tão iguais como eram.

Também não me basta que António Vitorino prepare o futuro programa do Governo ao Sócrates; seria preciso que não fosse necessário Vitorino pensar por Sócrates. Pelo PS todo, pelo menos pelo PS que há-de formar governo.

O que remanesce são bloquistas e populares, coloridos e inconsistentes, activistas dos gritinhos ensaiados e das patetas lições de vanguardismo e/ou de reformismo. Empatas por convicção, desconfio até que essa estratégia há-de estar expressa algures nos respectivos programas partidários: a de colocarem a sua essencial inutilidade ao serviço das maiorias desconfortáveis.

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