Uma América
O Eixo do Mal começou.Apresentado por um prognata contido, daqueles que "quando chove cai-lhe água na boca".
Um zum-zum de vozes meigas, vozes de pensadores em exclusividade. Vozes de dentro deles por fora de nós, a fazer-nos pairar lugares comuns como se fossem jardins suspensos.
Falaram de coisas pequeninas como se fossem grandes e de coisas grandes como se fossem pequeninas. O mesmo registo, um bocadinho "féxen", um bocadinho "azeiteiro", para tudo. O mesmo sorriso de enfado "de quem leu muitos livros" em todas as bocas. Independentemente do tamanho das bocas e das coisas, fica a ideia de bocas a falarem de cátedra de quase tudo, superficialmente, enfadadamente, mas de cátedra. Sempre os livros. A condensação do nosso pensamento no pensamento dos outros. Condensação utilizada como arma de arremesso. "Este livro também sou eu". "Este autor, a mim, caralho! Que portento!"
Há uma América, há duas, há várias... Um programa para contar Américas, sorrindo sempre, como se "da América eu é que sei". Uma América, aquilo tudo, como diria o João Braz.
Ficaram todos um bocadinho patéticos na sua tertuliana exibição de si. O mundo até pode ser aquela merda simples de que falam, mas falam daquela merda simples como se, ao mesmo tempo, fizessem parte dela e a vissem de cima.
Fica-me a sensação de que a Clara Ferreira Alves, apesar de parecer sempre sob o efeito duma violenta pedrada cosmopolita, ainda marchava.
Do resto eu já sabia: aquilo é discutir as discussões, de forma circular e "entediada", até que acabe por nos parecer que o importante são as discussões, não as coisas que se discutem.
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