Bairrismo
Há pouco, na SIC Notícias, vi o Nuno da Câmara Pereira (o fadista da voz caprina) no seu papel de líder dos protestantes contra as taxas de entrada no Castelo de São Jorge. Aproveitando a presença das câmaras, o Nuno passou por cima do obliterador de bilhetes com expressão corajosa e com a destreza só expectável a quem mantém a boa forma cavalgando nos montes alentejanos à caça das perdizes. Foi lindo: a causa é tão nobre e o simbolismo é tão forte que a imagem nos há-de ficar carimbada na memória de forma só comparável à imagem dos tanques na praça Tianammen. Mais lindo seria, a continuación, que compusesse um fado em que exortasse à libertação do Castelo.Mas note-se bem: os lisboetas não pagam. Trata-se de mais um curioso corolário daquele obtuso princípio do utilizador-pagador. Outro possível, que me foi sugerido há pouco, consiste exactamente no inverso: qualquer lisboeta que queira entrar no Porto pagará bilhete. A menos, claro, que consiga passar por cima do obliterador.
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