blog caliente.

3.11.04

Rascunhos



É aqui que estou com eles, todos os dias. Costumamos brincar com o soalho, uma espécie de chão de cozinha. Não fomos nós que escolhemos. Se fosse às riscas verdes e brancas, ou azuis e brancas, todo vermelho, seria igual: um soalho é só um soalho.

Vê-se 1/4 da sala. Estão lá os cadeirões velhos da hemodiálise, que nos deram, quase por favor, quando lhes chegaram, a eles, os novos cadeirões; são melhores que os que tínhamos. Vê-se a velha e colorida televisão (tristes jogos do Mundial da Coreia, todos de boné da selecção na cabeça triste, lembras-te Martinho?), as bombas infusoras de drogas e adiamentos. De curas, algumas, também.
Cheira bem, não cheira a hospital. As auxiliares têm brio diário no "repas" final.

Esta é uma fotografia tirada fora de tempo, uma fotografia de fim-de-tarde, quando tudo já acabou, os corpos rendidos já partiram, calmados na certeza cada vez mais triste de haver um hospital-de-dia escrito a lápis para gente feita de tinta o mais permanente que pode.

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