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2.11.04

Panamerica

É, seguramente, um dos sistemas eleitorais mais incompreensíveis de todo o planeta, se visto à luz de uma democracia efectivamente representativa, este que hoje há-de eleger Bush ou Kerry. Se for eleito, Bush há-de ser presidente do Texas e da generalidade dos estados do sul; Kerry, se for eleito, há-de ser presidente da Califórnia, do estado de Nova Iorque e de outros quantos. As eleições, as verdadeiras eleições, aconteceram nos estados indecisos, que hoje se decidiriam. Por mim é quase indiferente: Bush é um personagem inenarrável, a sua pusilanimidade só é comparável ao seu maniqueísmo pateta segundo o qual o mal está do lado de lá, da Ásia Menor para a frente. Quanto a Kerry, acho-o demasiado parecido com a Fernanda Borsatti. Não consigo evitar. Além de que, de facto, parece mesmo pouco determinado. Azar o dele, de não ter nascido com expressão de James Bond na versão Sean Connery. Enfim, mas o certo é que o Bush está ainda mais longe de a possuir.

Li esta semana qualquer coisa sobre o Wim Wenders, que diz rejeitar a América Bush por ser desigual nas oportunidades - os pobres empobrecem cada vez mais e os ricos enriquecem à custa dos pobres. Apoia Kerry. Mas o Wim Wenders não é americano, olha a América com o olhar distanciado de europeu para quem o terrorismo é uma ameaça consideravelmente menor do que para um americano médio, cheio de sentido pátrio, entupido de propaganda bushiana e aterrorizado pela ameaça islâmica. Nenhum americano está disposto a abrir mão das suas visitas ao MacDonald's e dos programas da Oprah: é a sua condição de consumidores autistas que os americanos defendem. Mesmo contra quem for contra. E, sobretudo, apesar de nós todos, o resto do mundo, na perspectiva de quem está, para o bem e para o mal, no centro dele. Mesmo que Kerry ganhe, de acordo com o que a maioria do resto do mundo quer.

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