blog caliente.

10.8.04

Directamente do Portugal Profundo

Nem sei o que diga. O Manuel, da Grande Loja, nomeou-me representante do "Portugal Profundo", linkando para um post em que eu, um dia desses, desabafei sobre tanta desinformação acerca daquilo a que ele (estranhamente...) chama "Caso Pio". O que é curioso. Nunca me vi representante de ninguém que não me tivesse mandatado expressamente e que, além do mais, eu aceitasse representar. Mas seja, se ele quer assim. Se eu rejeito, estrago-lhe a tese e todos sabemos que as teses partem de pressupostos reais ou, no mínimo, confirmáveis. Eu confirmo, pronto. Cá vai: eu, representante do "Portugal Profundo", afirmo não conseguir ler mais uma linha que seja sobre os podres conhecidos, omitidos ou manipulados deste caso.

Tal como disse então, quero é que não me incomodem com teorias da conspiração à margem do processo. Quero que, a falar no assunto, não acusem veladamente anónimos identificáveis ("um dos arguidos quis comprar as gravações"; "um outro colega, também advogado, igualmente mediático, que o acompanha e coopta no mesmíssimo Processo"; "suspeita-se de fugas de informação do processo"; não faltam exemplos), quero que os identifiquem quando os acusam e, sobretudo, que provem as acusações. Quero que o processo seja conhecido apenas por quem intervém nele directamente e que aos jornalistas, repórteres, caça-notícias, paparazzis e afins lhes seja transmitido apenas o que, de acordo com o que ainda hoje é o segredo de justiça (e que há-de deixar de ser), seja divulgável. Sabe o que lhe digo, Manuel? As suas reflexões sociológico-morais sobre o alheamento dos portugueses e sobre as questionáveis posturas de Germano de Almeida e de Júdice caiem nesse mesmo pântano das teses improváveis, das opiniões subjectivas, dos juízos presunçosamente morais. E você quer, evidentemente, defender um dos lados da barricada (e até há vários), e esse lado da barricada que você quer proteger também eu conheço relativamente bem.

Nessa mesma qualidade (lembro: a de representante do "Portugal Profundo"), reafirmo portanto que, como nada daquilo é exequível, possível ou expectável (porque as instituições são feitas, para o bem e para o mal, de pessoas, de poderes e de domínios), prefiro não saber mais a saber a mais. O Portugal Profundo prefere, de longe, histórias concretas, individuais, de pessoas que, embora não identificadas, são repetíveis e são, seguramente, sãs como maçãs sem bicho. Embora tristes.

View blog authority