blog caliente.

6.8.04

Quarta a fundo

Sabe, caro amigo? Eu, no outro dia, não quis dar-lhe nenhuma explicação sobre nada. Você não carece de explicação nenhuma, aliás. Muito menos minha, quem sou eu, sei lá eu da vida? Sabe alguém? Pois.

Uma coisa já entendemos ambos: não há cuidados paliativos organizados em Portugal, como não há outras coisas organizadas em Portugal. Eu ainda tenho Pai, Mãe, só já não tenho avós e alguns tios. Como eu o entendo, o tempo não pára!

Percebi, ainda bem (que eu nem sempre percebo logo... e depois esguicho sem nexo, peço desculpa), que temos isto em comum: este interesse desinteressado pelo bem estar e pela dignidade dos outros. Quer você agarrar-se a isto e irmos discutindo? Desculpe esta interpelação despudorada, às claras, mas deu-me para lhe ler os escritos todos e percebi que pode ser assim. Quer?

O meu Hospital tem, na gaveta do bafio, um projecto de cuidados paliativos domiciliários a doentes oncológicos, subsidiado pelo programa Saúde XXI. Um projecto com equipa hospitalar formada, com perfeita definição de objectivos, tudo! Gente que chegou a fazer formação em Odivelas, que é uma referência, como sabe, em termos de cuidados paliativos em ambulatório.
O advento das SA abortou o projecto. Isto é objectivo, por redutor que seja, mas aconteceu assim. Até a carrinha, que tinha sido prevista para a deslocação dos profissionais, se encontra, agora, a servir de carregadora de processos clínicos entre pavilhões, conduzida por maqueiro reconvertido.

Isto não é normal. A disponibilidade das pessoas não pode ser tratada como se fosse lixo: outrossim desmotiva, agasta, mete nojo.

Vamos traçar aqui um plano, nem que seja utópico: você, que é mais antigo na blogosfera, conduz. Eu colaboro. Lance os dados e jogue. Se quiser.

Um abraço.

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