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7.8.04

O erro é virtuoso se ocorrer na casa da virtude

Não lhe acontece muito, mas acontece-lhe. Exactamente, também lhe acontece.
O Futebol Clube do Porto engana-se nas escolhas e corrige-se. Como os outros. Faz é as coisas de maneira diferente. Eu, depois, ali em baixo, falo um bocadinho sobre esta diferença.

Aconteceu-lhe, ao FCP, enganar-se, que me lembre, três vezes. Na minha vida. Fernando Santos não foi um engano desses, não conta. Fernando Santos foi, mais que um engano, uma "persistência no erro", do ponto de vista draconiano.
Com quem aconteceu? Muito bem: aconteceu com Quinito, aconteceu com Octávio Machado e aconteceu agora com o italiano. Herman Stessl não é para aqui chamado, foi um erro assumido em tempo de crise.

Quando vêem que as escolhas são más nunca as assumem assim, no FCP. Era o que faltava! "Pá, acontece, enganámo-nos!". Isso nunca! Conseguem, a custo, assumir o seguinte: "a escolha foi boa, mas agora temos dados novos; a culpa não é da escolha, é do escolhido".
Nunca se errou nas Antas, nunca se errará no Dragão, em vida de Pinto da Costa. Deus o conserve, personagem fascinante. Por muito que isto me venha a custar derrotas e campeonatos. Deus o conserve.

O FCP faz mal? Pelos vistos não: faz bem. Consola os arquétipos das cruzadas contra os mouros e perpetua na memória dos portistas a certeza que um dia há-de faltar-lhe: a demoníaca capacidade de corrigir os erros (sem os admitir) de Pinto da Costa.

Um homem inteligente merece-me o mesmo respeito que um homem burro. Gosto de comparar outras coisas e o respeito é uma coisa que eu tendo a distribuir como distribuo fruta: uniformemente, assim haja fruta que sobeje, entre prendados e desprovidos de neurónios.
Quero dizer com isto (sim, é mesmo isto que quero dizer) que Pinto da Costa é um homem destinado à liderança. Tem carisma e esperteza. Tem educação. Eu sei que o velho dragão é um homem educado, sei coisas dele por intermédio dum amigo meu, que é amigo dele. É, como se diz pelos lados terminais e mais conspurcados do Douro, um "sinhuâr!". Mas sei, também, ler-lhe, na hora do emendar de mão (como agora, com Del Neri), um olhar de esguelha para mim, um besugo que lhe fica a montante na geografia hidrográfica e a jusante no restante panorama, um olhar de "caramba, que este topa-me!" que me consola do resto.

Gosto mais de Fernando Santos que de Mourinho, de Del Neri que de Carlos Queiroz, de Camacho e Ivic que de Marcello Lippi. De Boloni, Jozic, Inácio, Peseiro, Allison, Robson e Burkinshaw, que dos outros todos. Isto a propósito das diferenças de que falava ali acima: há um certo fascínio no "arriscar ao calhas", no errar e toda a gente poder dizer-nos na tromba que errámos, sem a gente fazer, lá por isso, uma guerra civil. A diferença é que o erro, o engano, o falhanço, no FCP, são sempre mascarados de "premonição". O FCP é um clube que acerta sempre, mesmo quando erra. E ninguém pode dizer o contrário, que depois eles ganham e, por isso, têm razão. Isto é irónico? Pois é.

O FCP, qualquer dia, merecerá dum puto qualquer dos que agora calha lerem-me, o seguinte comentário: "a gente jogamos todos muito bem, bués, mas depois quem ganha é o FCP".

E deve ser assim que está bem. O país sente-se feliz desde que não lhe arda a parte que nos toca. E Pinto da Costa vai-nos tocando a todos, com a sua varinha de condão enferrujada-mas-ainda-faiscante-que-nos-tolda.


P.S. - Já agora, uma praga: o próximo "mister" havia de vos sair ainda mais simpático e menos ganhador que o engenheiro do penta! Não, não era para o Sporting ganhar o campeonato. Isso há-de ver-se a seu tempo. Era só para aprender como se faz, no FCP de Pinto da Costa, quando ocorrem dois-erros-dois na mesma época.

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