A ortografia, a sintaxe, a ideia e a escrita
Tenho acompanhado o que se vem escrevendo no Aviz (e-mails incluídos), no Ma-Schamba, no Retorta e n' O Céu Sobre Lisboa (entre outros), sobre o problema de falar e escrever em português.A ortografia é importante. Uma sintaxe correcta fica borrada quando enquadra qualquer "paresseme que sim".
A sintaxe é importante, evidentemente: qualquer ortografia cuidada se esboroa, torpemente inútil, num descuidado "ele foi ao cinema e ao mercado e compraram lá frutas e besugos".
A ideia é fundamental. Sem dúvida. "Vou escrever sobre a problemática das mitocôndrias e o seu papel no metabolismo celular!". Boa ideia, já há montes de escritos sobre isso; mas a ideia pode ser interessante, explorem-nola! Pois... Estraga tudo, não é?
E, então, a escrita! A escrita... ora, a escrita. A verdade é que podemos sempre evitar escrever quando não sabemos. A questão é que nos ensinem: tu não sabes, tu vai antes pescar bicudas ou aplainar sanefas!
Eça sabia tudo do escrever, mas dava erros de sintaxe. E "cometia galicismos". E "sabia pouuquito do seu dicionário", dizia Camilo, esse excelente romântico ex-presidiário. Esta berraria, perante Eça, tem a importância dum dromedário no Alaska: não os há, lá. Se levarmos para lá um, passa a haver, pronto. Isto é como os erros do Eça, a gente não repara nos erros da perfeição a menos que seja contabilista.
"A juventude não entende a época de Eça..." , li eu, mais ou menos assim dito, por aí.
A juventude não entende se não quiser entender, a juventude é como a "maturitude" e a "velhitude", neologismos que a gente pode (sempre!) inventar: basta olharmos em redor, numa circunferência centrada no umbigo que quisermos, que temos aí Dâmasos, Condes de Abranhos, Eusebiozinhos, Carlos da Maia, Alencares, Amaros e Ameliazinhas, Ramires e Titós, Natários e Raposões, tias Patrocínias e Cascos, Meirinhos e Baptistas, Crafts e Joões Eduardos, Palmas Cavalões e Melchiores, Sarrotinis e Conchas, Gouvarinhos e bois do verde Minho. Há aí de tudo, num país que é o mesmo há muito tempo.
A questão é esta, eu li quase tudo o que me apeteceu ler. E há quem cuide saber escrever e não sabe. Há quem cuide saber ensinar e não sabe. Há quem tenha "a ideia" mas, caramba, mais valia pagar a alguém para lha escrever. Nem sempre há "alguém que nos diga tem cuidado".
E há a profunda indiferença do "está bem assim, não está?" que nos sufoca quando a lemos assim, correctamente escrita, a essa indiferença, como se valesse um Tructesindo. Geralmente não vale. Nem sequer um Barrolo.
Olá, Gracinha!
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