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12.12.06

Ditaduras light: isso existe?

Embora não tendo o Alonso explicado ao certo em que parte disto é que eu o surpreendi, devo dizer que eu, pelo contrário, me vou habituando quer aos fetiches ditatoriais quer às precipitações hermenêuticas do Alonso.

Ao que parece, também ele partilha desse sentimento de perda, como se o último acto torpe de Pinochet fosse o de morrer sem se submeter ao julgamento (esta é a parte é que o Alonso fala de "ter pena da morte de um ditador"). Para além disso, mistura o que eu disse com ou que eu não disse, sendo certo que o que eu disse foi que a única fatia de humanidade em relação à qual é compreensível que lamente (e que lhe doa) o crime sem castigo é a que integra aqueles que são vítimas directas ou indirectas do agressor. Disse, também, que duvido e que me espanto de quem assistiu aos quinze anos do "consulado" sem que o "consulado" o tivesse sequer, beliscado (e provavelmente nenhuma palha tivesse mexido para que o consulado cessasse) e que agora, do alto do seu confortável sofá, bate a mão no peito, reclamando da tal morte súbita e inoportuna, ah! miserável morte, que furtou Pinochet ao julgamento dos justos, que em geral são aqueles que criteriosamente definem em que partes do mundo é mais censurável a violação dos direitos humanos (exemplo: Cuba) e aquelas em que "não é bem assim como se conta" (exemplo: faixa de Gaza).

Não te identificas com as mortes e com os desaparecimentos da responsabilidade do Pinochet? Claro que não, Alonso, nem tu nem eu nem ninguém que se condoa com o sofrimento alheio. Mas deixa-me que te diga uma coisa que tu sabes tão bem como eu: a violência e a opressão não se medem. São males absolutos: se existem, mesmo que mais "civilizados" ou menos numerosos, são moralmente condenáveis "tout court". Sem atenuantes. Isto para falar nos regimes "ao contrário" dos que são "à espanhola". Topas?

Sempre quero ver como desembrulhas isto.

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