Verde, claro
Está muita chuva e muito vento, mas não está muito frio.Não determino, portanto, nenhum alerta colorido. Nem amarelo, nem laranja, nem vermelho.
Pode ser que isto piore.
Pode chover tanto que haja outra cheia, sobretudo se os espanhóis descarregarem a água que lá têm de reserva, só para estas alturas de invernia, para nos punirem em fúrias castelhanas de comportas abertas, vinganças de Aljubarrotas e outras sangueiras velhas.
Pode ser que o vento aumente, de tal maneira que tombem prédios e pinheiros nas cabeças lusas e, mesmo, na minha testeira. E plátanos.
Pode mesmo ser que arrefeça tanto que arrepie os corpos, de tal forma que esse arrepiar motive, por gangrena, amputações de pontas de órgãos.
Nada me demove disto: durmam em paz, sem alerta de cor nenhuma. Por mim, verde. Clarinho.
Quem teima em colorir alertas e em alertar coloridamente, sempre berrando e berrantemente, pretende apenas duas coisas: fazer de pintor berrante e, fundamentalmente, de inocente berrelas. "A mim, que me não culpem de vos não ter alertado! Eu bem vos disse alerta! E de que cor! Em correndo mal, não quero culpas minhas!".
Ora, isso de sermos cobardes profilácticos somos todos, desde sempre, sem necessidade de fingir. E tendemos a sê-lo cada vez mais. E sem ganho nenhum, já agora, além da paz dos podres pacificados no alerta.
Estar sempre a alertar enerva como o caralho os alertados. Apetece-me empalar com uma tora grossa de pau santo o próximo alertador.
Como diria Eça: "Alerta!" - "Muito bem, alerta está!".
Como diria a lolita: descansem bem. A lolita, ao contrário de Murphy (mesmo da Murphy Brown), acha que o que puder correr bem, correrá.
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