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3.12.06

Esguichos de besugo

Uma flora, para quem não sabe, é um passarinho tonto armado em pardal. Em mais pequeno e dócil.

Uma vez, tinha eu dezasseis anos e a minha avó não sei, sei que morreu o meu avô nesse ano, mas não me lembro que idade tinha a minha avó, nem interessa, a minha avó era quase só a avó dos outros netos todos que ela tinha, morreu de cancro, um cancro velho, uma vez, dizia eu, estavam sete floras pousadas numa roseira grande e velha que a minha avó mandava que uma sopeira também velha cuidasse, aparentemente só para lá pousarem floras. E elas pousavam ali.
Com a minha espingarda de pressão, que era emprestada, matei três floras, com a lentidão inerente a tudo o que é rústico, a espingarda e eu, uma de cada vez, até cairem três; que, depois, o cão comeu, cuspindo penas, o que me enojou de mim e dele. E delas.

Isto tudo antes de eu perceber mais duas coisas: que as quatro floras restantes ali ficariam, tontas, alheadas de quase tudo, como que à espera das minhas chumbadas lorpas, o tempo que eu precisasse - o que me enojou ainda mais de mim e das floras todas; e que somos, quase todos, uma espécie de floras, igualmente armados em pardais, em finos pardais - o que me provocou mais nojo e muito medo, cuido que o nojo do medo.

(Revisto por necessidade minha)

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