blog caliente.

1.12.06

Passagens

Não saio muito. Dizem-me que devia sair mais, mas estão sempre a dizer-me que devia muitas outras coisas e eu já compreendi que nem tudo o que me dizem é por minha causa, nem pelo meu bem.

Mas reparei que, quando saio com outras pessoas, nas raras vezes em que o faço, a mistura do grupo assim formado, grande ou pequenino, é uma massa pouco homogénea. Parece-me muitas vezes que as pessoas não saem juntas para estarem juntas, umas com as outras, num sítio qualquer. Cuido que saem para verem e estarem à vista doutras pessoas, que não aquelas com quem sairam.
"Olha ali fulano, olha beltrana", e tudo se resume a decifrar se fulano e beltrana também deram fé de nós.
Isto é parolo, desculpem. Eu acho isto parolo e deprimente e, como acredito que as outras pessoas são inteligentes quando podem, insisto muito na crença de ser a avidez um repelente; não um atractivo.
Não me ligam, acham que exagero, e eu fujo a estes programas semi-catárcticos.

É como se, quando nos convidam para sair, nos fornecessem uma espécie de passe para fazermos parte dum expositor colectivo ocasional. Como se não quisessem estar connosco, de facto, mas pretendessem apenas estar no meio de outros, connosco ao lado. Para uma espécie de interacção com a envolvência, não havendo nenhuma envolvência intestina interactiva.

Tudo me parece decorrer como se fôssemos, quase todos, adereços dum teatrinho chucro de bairro pobre, sempre a olharmos sem vermos, sempre à espera de sermos vistos sem o sermos, não sei muito bem por quem nem para quê. Não sendo sequer notados, nessa dimensão carente da nossa intencional objectividade, a não ser por quem anda ao mesmo.

Hei-de sair pouco, sempre que puder conter-me sem ofender ninguém. Até melhor conselho, ou mais douta jurisprudência, passo.

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