blog caliente.

21.12.05

A revolta dos anónimos

Consigo pensar em múltiplas razões para se querer manter o anonimato, assim como consigo pensar em outras tantas para se divulgar a identidade. Todas igualmente válidas e legítimas; em geral todas, também, do foro pessoal. Ou seja: na verdade, ninguém tem nada a ver com isso. Manter o anonimato, na blogosfera ou em qualquer outro contexto, é tão válido e razoável como não divulgar a terceiros os resultados de uma ressonância magnética, o saldo bancário ou em quem se vai votar nas presidenciais. Em suma, exerce-se um direito, um direito legítimo à reserva dos dados pessoais.

O desvio, lamentavelmente corrente, não consiste, note-se bem, em manter o anonimato. O desvio só ocorre quando alguém se serve desse direito ao anonimato para, exalando a mais inqualificável covardia, insultar ou ultrajar terceiros sem ter de prestar contas dos impropérios proferidos. O problema não reside, portanto, no anonimato em si. Reside, isso sim, na tortuosa mente que se apropria do anonimato com objectivos deliberadamente nocivos. Não me interessa, sequer, discutir aqui a psicopatia notória de quem se dedica a tão bizarra actividade. O que sei é que, por muito que se tenha como certo que tudo isso merece a mais profunda e genuína indiferença, nem sempre se consegue pôr em prática tal sabedoria. Os anónimos escroques às vezes chateiam. Os identificados também, mas com esses podemos melhor.

Da mesma forma, incomodam-nos as baixarias em praça pública. Todos gostamos de uma boa discussão de ideias, elevada e acesa, isenta de qualificações ou juízos pseudo-moralistas sobre os envolvidos, ainda que, às vezes, correndo mal por meros equívocos ou por causa da incontornável gestão dos egos. Mesmo que termine em ira, esta suaviza-se com o tempo e acaba por cair no esquecimento. O que é bem diferente do desconforto que se sente ao ser vítima de uma injúria praticada em público, essencialmente gratuita e desproporcionada, sobretudo se quem o faz nem sequer se retracta. Pior será, claro, se quem injuria não se identifica.

Tenho lido, de quando em vez, censuras explícitas ou veladas sobre o uso do anonimato na blogosfera (como aqui sucede, no blogame mucho), mas julgo que quase sempre se erra o alvo. O que é censurável não é guardar reserva sobre dados pessoais; é, antes, violar regras de cortesia e, nos casos mais patológicos, ultrajar sem outra razão ou consequência que não o próprio ultraje. Pela parte que me toca, continuarei a divulgar a minha identidade sempre que entender fazê-lo e apenas a quem eu entender.

Ponha-se um ponto final na censura absurda de quem escreve com um nome inventado. Lembremo-nos de Cunhal/Manuel Tiago, esse homem de pseudónimos que a história tornou praticamente incontroverso, como quase sempre sucede, pelo menos com os homens de bem. A Carla, por exemplo, já tem isto tudo muito claro.

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