blog caliente.

21.12.05

Fomos à oral (é a brincar)

É a brincar o título. Daí para baixo não.

O Patrick Blese atribuiu-nos um prémio. O galardão de melhor blogue "escrevo como falo".
Eu gostei. Não sei se foi justo, mas foi certeiro. Sei que não respondo só por mim, nem agradeço sozinho: aqui não sabemos escrever doutra maneira. Noutros sítios sim, sabemos: noutros lugares temos, mesmo, de escrever diferentemente. Mas, aqui, escolhemos escrever assim e é assim que isto nos tem saído, há quase dois anos e meio.
O Patrick topou-nos bem. Não somos mais do que isso, não merecemos mais que tal, mas também não somos menos, nem rejeitamos esse mérito. Andamos aqui, em boa companhia, a escrever conforme falamos. A arte pequena da conversa. Esse artesanato.

Aqui há uns dias li, num blog qualquer, comentários em que se endeusava Lobo Antunes, isto por um lado, enquanto por outro, com um despudor do tamanho da ignorância repentista, se criticava o facto de lhe terem saído, recentemente, pela mão das filhas, as cartas antigas à mulher. Havia, mesmo, quem lhe elogiasse o distanciamento da publicação (não sei se ele se distanciou, até porque ele parece, já, um homem tão distante de quase tudo que, se se distancia ainda mais, cai da borda do mundo abaixo) por ter ideia que o revelar de cartas é trair o intimismo. Só se for por ele estar vivo e ter vergonha delas, pudor delas, e, nesse caso, que não permitisse esse desvelar da sua intimidade (que me pareceu, sempre, muito pobre, muito umbiguista, uma intimidade de cotão).
A não ser por isso, que diabo, que venham mais cartas! Mais epístolas. Mais "escrever como se fala".
É nas epístolas que mais se sente o homem, não é no romance (também é, mas menos). Basta ler as cartas de Eça para quase o sentarmos à mesa, num ripanço de falares.

Vem isto a propósito de "escrever como se fala". A culpa é do Blese, chateiem-no a ele, sim? Não acho mal. Nem bem.
Sei que somos assim. De "esguicho". Quem quiser que nos ature, agredecemos sempre.

Comovo-me sempre que me distinguem. Mas é engraçado. Primeiro, provinciano de gema, desconfio sempre. "Isto é gozo? Será mais um(a) que, da crueza, conhece, apenas, a que lhe arrefece o pêlo e que, por mal-me-ler, me cuida apenas mais um fazedor de diários tontos?". Depois, leio melhor, reconstruo-me nos meus alicerces de parolo que aprendeu as coisas (de as ver, de as pensar, de as sentir) conforme as coisas lhe calharam, e - quase sempre - concluo que pode ser que haja mesmo, neste mundo, não digo noutros mundos, mas mesmo neste, quem aprecie ler quem escreve consoante fala. Com palavrões e tudo, consoante eu discrimino que assim seja, que a pena é, quando eu a tenho, minha.

Pessoalizei, sem querer, na verborreia final, este agradecimento. É um agradecimento, mesmo. E cuido que é, no fundo, de todos nós. Não pensem que é mais que isso. Mas também não é menos.
E acredite, Patrick, que, se o tornei mais meu do que devia, é porque era mesmo eu quem mais precisava de mimo, por estas bandas. São feitios.

P.S - Miguel: obrigado, já agora, da mesma forma; e, também, sem hiper-ligação (é o raio do linque). Ficamos assim, nós os dois, que ainda por cima parece que relemos Eça com mais prazer do que lemos outras coisas que aí há, daquelas que são uma espécie de tarantantan-tling-tlong, a chocalhar conforme os dias dos outros.

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