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19.12.05

Apoiantes e seguidores

É fácil perceber que a independência é uma característica comum a quem apoia Manuel Alegre. Falo, evidentemente, não do eleitor anónimo, mas sim dos "notáveis", que se movem nos meios políticos e partidários, económicos e culturais, em que cada um se integra num lobby ou numa malha de influências que lhe traz vantagem, notoriedade e garantia de futuro auspicioso mas que, em contrapartida, exige fidelidade, apoio a todo o custo, disciplina, renegação de princípios (para quem os tem, claro está, embora tendo-os o resultado seja semelhante), em suma, uma espécie de voto incondicional de obediência. Sendo assim, apoiar Manuel Alegre é um verdadeiro e próprio acto de coragem para os homens do partido, ou dos lobbies económicos ou culturais que gravitam em torno do aparelho.

Ao mesmo tempo, realça-se-lhes a diferença, notória, face aos que, querendo apoiar Manuel Alegre, lhes faltou a coragem, tolhidos pelo temor da retaliação. É desta massa de gente, desapossada da própria opinião e subjugada ao poleiro que defendem a qualquer custo, que é feita a colectividade de apoiantes dos candidatos que são apoiados pelos partidos, por muito que se esganicem a proclamar-se supra-partidários (longe de se capacitar que o que querem, na verdade, dizer é que são apartidários, que isto tudo está bem longe de ser um concurso para eleger super-heróis). Produto pré-construído, mas mal construído, bacoco e saloio, sustentado em modelos obsoletos do bem estar social para iludir tolos e incautos. Mas que, ainda assim, congrega apoios das pessoas mais insuspeitas, por razões diferenciadas, até pelo receio da libertação do aborto. Não me enganei. Quis escrever libertação porque parece, aos olhos dos receosos, que se vai libertar um monstro da jaula. Basta ler o Alonso que, por causa disso, até vai ponderando oferecer-lhe o seu voto.

O resto dos pensadores faz de conta que discute, entre Soares e Cavaco, ao mesmo tempo que faz de conta que apoia um deles com firme convicção. Sobre declarações de candidatura, vê-se de tudo. E há, claro, os arautos das candidaturas, acérrimos defensores das qualidades endeusadas dos seus candidatos, que acreditam de forma tão pia que, não fôra a infinita patetice, pareceriam transidos de fé.

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