blog caliente.

18.12.05

"'tás parvo ou quê?"

- Vou votar no Alegre.
- Quê?
- Vou votar no Alegre.
- Porquê?
- Não gosto do Cavaco. E detesto o Soares, claro.
- Mas o Alegre é socialista, pá! À esquerda do próprio Soares!
- Duvido que seja mais esquerdista que o Soares, mas mesmo que o fosse, não é nem mafioso nem balofo. E como o Cavaco, de direita, também não é ...
- Essa agora ...
- Porra, o Cavaco é um tecnocratosocialista, carago. Só não vê quem não quer.
- Tu dizes isso porque embirras com o PSD.
- Não tem nada a ver com isso ... se bem que é verdade que o Cavaco tem a mesma densidade ideológica do PSD.
- Ahhh ! Eu bem digo, é o teu anti-PSDismo a falar.
- Já disse que não.
- Mas ... o Alegre porquê? Sempre te podias abster ...
- Porque isto precisa de um abano.
- Pois ... olha, ainda apanhas com a legalização do aborto por lei e promulgação presidencial.
- É o único risco que me faz ponderar abster na segunda volta, se esta fôr entre o Alegre e o Cavaco. Mas na primeira volta voto Alegre, não tenhas dúvida.
- 'Tás parvo.
- Não 'tou não.
- ...
- ...
- Mas olha lá, se muita malta que pensa como tu fizer como tu, às tantas há mesmo segunda volta, e arriscas-te a que seja entre o Cavaco e o Soares. E arriscas-te a que ganhe o Soares. Ganhas alguma coisa com isso?
- Perco alguma coisa com isso?
- Tens o Soares presidente outra vez ...
- Fazes-me rir. NUNCA votei útil, o que sabes muito bem. E não era agora que iria fazê-lo.
- ´Tás parvo.
- Não 'tou não.
- ...
- ...
- Olha lá ...
- DIz.
- O ... Manuel Alegre?
- O Manuel Alegre.
- Mas em que é que te identificas com o gajo?
- Na vontade de mexer com este estado de coisas em que ninguém acredita em nada, em que ninguém verdadeiramente tem vontade de combater nada, em que todos apostam na mediocridade como melhor maneira de passar incólume pela vida.
- Olha, se és um sebastianista, acho que escolheste o Sebastião errado.
- Não sou sebastianista. Aliás, o sebastianismo é essencialmente esperar o regresso de quem nunca voltará. D. João foi quem veio, não era D. Sebastião, e ainda bem.
- Isto está a ficar muito esotérico, se queres comparar o Manuel Alegre aos Duques de Bragança.
- Pois, se o VPV lesse isto, o fígado rebentava-lhe de vez ... e não era pelas razões que pensas, era de tanto se rir.
- Esse gajo é capaz de se rir?
- Sei lá. Deve ser como o Eanes dos livros do Augusto Cid ... " Não me posse rir que fique feie".
- Ahhh, reaccionário, que admites que leste esses livros! Como é que um gajo que lia esses livros do Augusto Cid admite votarAlegre?
- Também li todos os D. Camilo, do Guareshi. E sempre simpatizei com o Peppone.
- Olha ... 'tás parvo.
- Olha ... não 'tou não.
- ...
- ...
- Só mais uma pergunta ...
- Diz.
- Agora deste em imitar o besugo, a escrever diálogos no blog?
- Não, e ainda bem que me colocas essa pergunta, que eu já estava a ver que isto acabava sem eu dar uma alfinetada, por pequena que fosse, nesse cromo. Há três diferenças fundamentais entre este diálogo e os do besugo: primeiro, este é longo e chato, enquanto os do besugo são curtos e cómicos; segundo, este sou eu a falar comigo próprio (sim, que tu também és eu, não sei se tinhas percebido), enquanto os do besugo são ele a falar com os estereótipos que ele meteu na cabeça sobre o que são "os outros"; terceiro, o besugo é, apesar de tudo, bom rapaz, que acredita mesmo que o que pensa e escreve é o que está certo, e eu sou um cínico.
- Cínico, e parvo.
- Cínico, mas não parvo. Ainda te mando calar.
-Pois ... já agora, sobre a lolita, não escreves nada?
- Não bato em mulheres, nem em jogos florais.
- Isso não é verdade ...
- Pois não.

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