blog caliente.

20.12.05

Oração. Enfim, uma espécie.

Sempre gostei de pescar. Mas fui sempre uma nódoa.
Apeteceu-me partilhar isto convosco porque é um bom exemplo duma coisa qualquer que agora não me lembro mas que há cerca de dez minutos parecia fazer algum sentido.

Um dia levaram-me às Furnas, à Lagoa, para uma pescaria. Era de carpas. Nunca pesquei nenhuma, mas as carpas são aquelas grandes que saltam sempre a mais de trezentos metros de distância da merda do sítio para onde se atira o isco. Isto é cientificamente comprovado, há um estudo feito na Universidade dos Açores que o demonstra: "atire-se um isco, envolvendo competente anzol, para o local da lagoa das Furnas onde se viu saltar uma carpa e, imediatamente, ela dará novo salto a cerca de trezentos metros desse local; em contrapartida, atire-se o isco - e competente anzol - para uma merda dum sítio qualquer que fique algures numa circunferência com trezentos metros de raio, cujo centro seja o sítio onde a carpa saltou antes e, como se fosse por uma estranha geometria do destino, ela voltará a saltar no centro dessa figura regular, a grande puta".

Isto vem num tratado, por isso não se ponham com coisas.

Bom. Estava eu nisto e, às tantas, pareceu-me sentir um violento puxão na cana. Sim, evidentemente, não era nada, tinha ficado o anzol preso no fundo. Puxei e o fio partiu-se, ficaram lá o imbecil do isco, mais o caralho do anzol e a carpa saltou, evidentemente, trezentos metros à esquerda. Atirei-lhe uma pedra, aborrecido, o que a fez saltar a trezentos metros de distância do chapão.
Fiz novo isco, meti outro anzol (são grandes!) na ponta do fio, mais chumbo, que chumbo não falta, e voltei à carga. Atirei aquela porcaria lá para dentro, trezentos metros para o lado esquerdo da posição inicial. Senti novo puxão, bastante forte, ao fazer o "currico", e era a carpa, a cabra da carpa, que tinha sido enganada! Era o caraças. Era só a ver se colava. Não era nada. Estava mas era o anzol preso no fundo, outra vez.
Puxei tudo. Dei voltas ao carreto com o pensamento tão enevoado que começou a chover. Pouco, mas enfim, era Verão, nunca o pensamento se enevoa tanto como no Inverno, nem que tente.
O fio não se partiu e o meu novo anzol trazia, agarrado a si, mimoso e cintilante, o anterior.
Sei que era ele porque me sorriu, reconhecido. O isco nunca mais o vi, palavra de honra. Mas que Cavaco Silva não ganhe as eleições se isto não for tudo verdade!

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