blog caliente.

17.12.05

Outra que eu podia calar, mas enfim.

É notório (e notável, até), que algumas pessoas - nos jornais, na televisão e, mesmo, aqui, neste espaço pequeno - se esforçam por reduzir os debates entre os candidatos presidenciais a uma coisa inútil. A um folclore sem consistência.

Terão razão. No entanto, quando se afirma que um candidato a presidente da república é um mero candidato a quase coisa nenhuma, por não ter poderes para mudar seja o que for, assumindo a vertente "globalmente desinteressante" desta eleição com um ar vagamente entediado, desvalorizando o confronto e a discussão "porque o povo escolhe, mas é, de acordo com o que lhe interessa para a sua vidinha" é preciso explicar melhor porque é que se diz isso em artigos de opinião impressos. Quando não, alguém se lembra de perguntar "olhe, então por que raio se preocupa em manifestar que apoia determinado candidato? e por que é que apoia esse e não outro qualquer? se isto é tudo assim uma espécie de maçada, para que se maça? e, já agora, o candidato que apoia é o melhor para a sua vidinha porquê?".

Desculpe, Francisco, mas como o seu candidato não explica rigorosamente nada a ninguém - tal qual os outros, dirá você; já o disse, até, mas quem escreveu um artigo de opinião no JN foi você, não foi ele, nem nenhum dos outros - explique lá isto, se puder. E se quiser, claro.

É que, doutra forma, eu vou achar que, hoje em dia, se parem frases e teorias "só para fazer efeito". Coisas como aquela, bem peregrina (no sentido de que "mais lhe valera passar por detrás do santo, em Santiago, que andar em bicos de pés nas pantufas da vida") do Lobo Antunes - o mais pedante, não é o irmão que mexe no encéfalo: "esquecer uma mulher inteligente custa um número incalculável de mulheres estúpidas".

Sabe porquê, não sabe? Para começar, por isto: para quê esquecer uma mulher inteligente? Não é uma frase parva? É uma estupidez que deveria retirar o autor dos escaparates da inteligência, ao menos por cinco minutos.
E, depois, não sei se reparou, aquele ar de tédio de verdadeiro conhecedor de conário, estampado numa face que - e eu sei, que conheço o personagem de o ver de perto, nos olhos quase - só não é mais vermelhusca porque ficaria quase roxa, não é patético? De presunçoso? Pois é.

Não. É preciso explicar as coisas. Não que sejam precisas muitas explicações, mas porque a negligência não existe só na medicina, na engenharia de pontes e nos pais que esquecem os filhos. A negligência pode notar-se em notáveis artigos de opinião que, não atingindo patamares subterrâneos dignos dum hirto Delgado, ou dum bélico Rogeiro, também era o que faltava, são desdenhosos sem razão válida para o desdém. E quem merece respeito, merece reparos.
Tome este, faça-lhe o que quiser, eu sei que há reparos que não merecem reparação, dependendo tudo do ponto de vista do tipo que está de serviço.

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