O intercâmbio político
José Medeiros Ferreira viajou para Cabo Verde e regressou favoravelmente impressionado com a "alta qualidade" dos políticos. Diz-se, aliás, consolado, no regresso.Eu não sei se, antes de ir, José Medeiros Ferreira sabia que o país tem sido, nos últimos anos, hipotecado às cooperações de países próximos naquilo que tem de mais precioso, do pouco que tem. Não sei se sabe, por exemplo, que em troca da beneficiação do porto da Praia, paga pela cooperação japonesa, as frotas de pesca nipónicas literalmente rapam a costa caboverdiana. Nem sei se sabe que, em troca dos apoios financeiros aos sistema de dessalinização do Sal, foi instalada uma refinaria junto ao porto de pesca mais importante da ilha. E, já agora, que o Forte da Cidade Velha (construído por portugueses) foi recuperado pela cooperação espanhola (embora sejam, neste caso, mais responsáveis os políticos portugueses de "qualidade"). De troca em troca, o país constrói-se, talvez; mas empobrece, seguramente, na estrutura. E na autonomia, que já é escassa.
Não sei se Medeiros Ferreira sabia disto ou se, sabendo, se ofuscou com os retóricos, ao lá chegar. O certo é que essa "sabedoria" que Medeiros Ferreira lhes encontra inclui, também, o talento para este tipo de "transacções comerciais". Vende-se o país hoje, hipoteca-se-lhe o futuro. Basta ir lá para ver.
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