Pêsames
Outra vez 11 de Setembro.Lembro-me de ter pensado, nessa altura, o que penso hoje: não vou assustar-me mais com a barbárie só porque passou a ser espectacular; vou é ter de ouvir os tipos que pensam que ela só começou agora a tentar explicá-la; no seu tempo, no seu espaço, para a perceberem e não terem de mudar grande coisa no que se passa dentro das suas caixas córneas sem memória.
Bem vêem: eu já vi gente morrer à sacholada. E li sobre um linchamento em Quebradas, perto de Aveiras, há uns anos, executado por cidadãos eleitores e de fato no intervalo dum casamento, ou dum baptizado, já nem me lembro de que sacramento se tratava ali.
E vi os dois polícias ingleses serem espancados até morrerem na Irlanda do Norte, em 1989. E o piloto isralelita que teve o azar de se ejectar no Líbano, a levar pontapés na cara. E os belgas. E os outros, no Sudão, na Libéria. E sei o que fizeram ao Miguel de Vasconcelos, às bruxas, ao Ceausescu e à mulher, a vários médicos e filósofos, àquela romena que ia a passar naquela praça grande, em Bucareste, quando os mineiros desceram à cidade, aos judeus, aos adeptos do Braga que foram ver o jogo a Vigo, no ano passado, aos pretos que moravam nos prédios velhos de Paris...
E vi muitas mais coisas, em quase todos os sítios. Ligo-as todas e, perante estas coisas más, e outras que não digo agora, tento pensar: "não te assustes mais, não te assustes mais, não mudou nada, agora filmam tudo, tu estás sempre a ver, é só isso, mais nada, é sempre igual".
É, não é?
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