Bingo
Provavelmente tem razão. Aliás, tem, de certeza.Somos um povo caprichoso. Sim, é um eufemismo.
Não há nenhuma excelência no capricho, havia até uma revista, nos anos 60, que tinha esse nome. E não era grande merda.
Sinceramente, penso que tem razão. Digo mais: mesmo que aconteça o contrário do que prevê, tem razão, na mesma. Porque, suceda o que suceder, e o que suceder não tem assim tanta importância, sucederá sempre por capricho. O capricho dos indecisos não é mais ridículo que o capricho dos decididos. Acalentamos a bile do "ai é? então pega lá". Não é? É. Isto é de sempre. Não digo que é mau, digo que é assim. Mas também digo que é "só assim". Mais nada.
Move-nos mais a punição que a contrição. Motiva-nos mais o "arrasem isto tudo, e é já, que está tudo mal!" que a construção. Que a reconstrução.
A construção é, geralmente, contrita. A reconstrução há-de ser, em calhando, "recontrita". Eu não sei, de palavras, mais que as letras.
Não é? Pode ser lenta, mas é teimosa, persistente, a construção. Contrita, até por isso, por ser mais lenta. Um acto de contrição é uma coisa lenta, penosa, bela: construtiva. A destruição é rápida. Está bem, pode não ser rápida, mas é, geralmente, "mais rápida". Sócrates gosta disso, há-de ter estudado o seu "napalm", creio.
Olhe isto: os casmurros sofrem. Persistem, mas sofrem, porque quase ninguém está para aturar um casmurro e não há sofrimento maior que "não estarem para nos aturar", excepto, eventualmente, uma carga de porrada, ou sermos queimados vivos, ou morrer um filho, um amor, ou perder o Sporting.
Tem razão. É de palmatória que precisamos todos. De quem nos diga para onde ir, o que fazer, como o fazer. Claro que, mais tarde, há-de haver alguma ordeira revolta e ouviremos os urros do costume: "chega de palmatoadas! aqui d'El qualquer coisa (geralmente aparece a GNR)".
É o costume. E há-de haver uma pausa, mais ou menos cravo, mais ou menos sangue, durante a qual (refiro-me à pausa) criaremos o espaço necessário ao aparecimento do messias seguinte.
Não, a sério, juro-lhe pelos meus filhos que isto é a sério: você tem razão.
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