Fervuras
Nos seus textos, João Miranda consegue deixar no ar a ideia de que fervilha sempre. Não sei se fervilha sempre. Nem quero saber, é com ele, mas acho que fervilha muitas vezes bem.Mas quando diz que o investimento na educação em Cuba não é uma coisa positiva, fervilha mal. Ele explica porquê, socorre-se mesmo de bibliografia, mas percebe-se que ele acha, no fundo, isto: que o investimento na educação é positivo ou negativo consoante o País que nela investe e consoante ele gosta ou não do líder. A educação não é, pois, para João Miranda, um valor absoluto: em Cuba, por exemplo, por causa de Fidel e doutras carências que enuncia, a educação não passa de propaganda. Até porque, se fosse uma educação séria, (isto já não me lembro se foi João Miranda que afirmou, mas foi um blasfemo, ainda há bocadinho estive lá a ler, foi lá de certeza, mas acho que não foi João Miranda, peço desculpa se não tiver sido), os educandos depunham, imediatamente, Fidel. Ou seja, há educação em Cuba, mas é "mala". Nos outros países ele não disse, presume-se que a acha melhor.
E diz, ainda, isto, noutro texto: a produção de riqueza não é um jogo de soma nula. A riqueza produzida por uma determinada pessoa não impede outra de produzir riqueza semelhante.
Pois não, não impede outra pessoa. Mas outras pessoas, no plural, já é capaz de impedir. Não é um jogo de soma nula, isto da riqueza, mas a soma está muito longe de tender para o infinito: tende, mesmo, a soma, se os cotovelos forem deixados à solta, para cerca de dúzia e meia a enriquecer e o resto a ver. Deste resto, alguns vão trabalhando para a dúzia e meia (e baratinho, que não falta quem tenha precisão, "tu não queres meia bolota, vai indo") e os outros vão tentando apanhar-lhes o lugar, que até meia bolota lhes daria jeito.
Não, de facto, quando fervilha demais, João Miranda não fervilha tão bem como de costume.
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