blog caliente.

8.3.05

Esguichos de besugo

É sempre um gosto ler o Alonso. Pena que seja um prazer raro. Como sei que ele tem muitos afazeres, cuido que uma aparição semanal seria o adequado. Contudo, ele prefere desepedir-se por tempo indeterminado.
O Alonso faz-me lembrar um homem na clandestinidade.
Um comuna. É o tipo mais parecido com um comuna que eu conheço, aliás.
Bom.
Saudações feitas.
Desta vez apareceu premiador. Vamos lá a ver:

1 - O prémio Madalena Iglésias está bem atribuído. Concordo com o nosso jurado. Ele sabe quem ele é, Freitas. E chama-lhe senador. O que me parece remeter, mais, à Roma antiga que ao Senado norte-americano. Alonso quase se condói do primeiro-ministro, porque tem no seu governo um senador. Remetendo-me (que eu sou muito endossável) aos dois governos anteriores, percebo que a dúvida não se tenha colocado em relação ao estupor (que não senador) que secundava os primeiros-ministros de então (um, agora, cevando-se de mordomias que nos orgulham a todos, outro pastando rasas pradarias plenas de geada): o problema não se levantou, nem a História o levantará, porque é suposto um estupor escolher, dentre o seu baralho de figurinhas, estupor da mesma espécie. Não havia, de facto, motivo para grandes conversas.

Se eu prefiro um senador a um estupor? Depende. Deixa-me pensar. Por exemplo, ao ver as imagens de Putin a falar com não sei quem, hoje à noite, prometendo condecorações a quem matou o "traidor" separatista, logo seguidas da exposição do cadáver do separatista, obviamente seviciado (pálpebras tumefactas, roxas, pose de rendido, com as mão no ar, todo ele um cadáver vencido)... Enfim. Prefiro, definitivamente, senadores a estupores.

2 - Quanto ao prémio atribuído à discussão sobre a eutanásia, discordo. Que se concorde com a Lolita, até entendo: ela está a tentar uma certa equidistância entre o paroxismo e a contenção, sobretudo desde que admitiu votar PC, o que lhe causa problemas de índole familiar (ameaças de alienação de património, etc) e do foro íntimo (Jerónimo de Sousa não tem a acutilância guerrilheira do Che... mas também, no Bloco, só Ana Drago poderia ser imaginada a seguir Fidel sem ser pelo "bués" de ser vista com ele...).
Mas não se percebe com que raio concorda o Alonso. Ó Alonso, fazemos assim: tu concordas, ao menos, que não há nenhuma semelhança entre a bondade da morte assistida e o legitimar das tendências abortadeiras das queques que se descuidam nas "fêstas" e eu passo este prémio em claro, substituindo-lhe, apenas, o nome: "prémio luta pela dignidade na morte, fazendo-me os senhores a fineza de discutir onde começa a dignidade e acaba a manipulação, nesta história".
Esta questão, a da eutanásia, é uma questão vasta e complexa, mas que tem de começar a ser encarada com seriedade. Hei-de voltar a ela, porque me perturba. E não devemos deixar a nenhuma força política, a nenhum partido, o direito de a excrementar. É uma questão social tão importante que deve ser despida de toda a coloração partidária. As vestes sectárias emporcalham, excrementam, uma questão que se quer bondosa, fazendo-a tender para uma bipolarização que ela não merece.

3 - Quanto ao terceiro prémio, estamos totalmente de acordo. Como aliás já se percebeu. Tal como o Alonso, não encontro na Igreja Católica qualquer utilidade pública. Encontro-lhe utilidade privada.
Ainda hoje falei com uma senhora entendida sobre isso. E ela explicou-me que, desde que eu me sinta bem, posso benzer-me as vezes que quiser, em momentos de crise, para logo a seguir vituperar a inquisição e os novos inquisidores. Ela acha que isto é como o alecrim aos molhos, por causa de ti choram os meus olhos: é consoante. Claro que os benefícios públicos de que goza a Igreja Católica são parcos e legítimos. Nem uma privacidade moral de tão casta e exemplar vetustidade se compadeceria com um alargado gosto pelo subsídio. Afinal, como todos acreditamos, a Igreja Católica vive de côngruas. E humildemente congruente, isso sempre.

Termino saudando o Alonso, a Lolita (que hoje, além do mais, é o dia da mulher - desconheço se ela o passou onde lhe competia, na cozinha... ou onde o seu estro a manda estar) e o Joselito, essa disforme criatura. E o stkaneko, caso leia.

Certo da gratidão que vos há-de inspirar este escrito, despede-se, já perseguido por centenas de émulas de Maria Teresa Horta, todas de caçarolas em riste, o sempre vosso

besugo

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