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6.3.05

A solução reside no prémio

Venho de ler o Cabalas. Lá, encontrei uma declaração inflamada sobre a eutanásia, que vai condenada por causa do risco do oportunismo das seguradoras, que tentariam os familiares a receber prémios em troca da "quitação" das despesas.

Pelos vistos, somos tão capitalistas que até o possível direito a morrer soçobra liminarmente na presença de uma elementar dedução económica. Tudo depende, numa primeira e suprema análise, da questão de saber se o sujeito é, ou não, beneficiário de um seguro de saúde ou de vida. Se o for, há que combater ferozmente a prepotência insidiosa das seguradoras, recusando-se-lhe liminarmente a eutanásia.

Será, portanto, lógico concluir que, se nunca se tivesse inventado este conceito iluminado de "transferência de risco", a questão da eutanásia seria pacífica. Raio de seguradoras que, de tão poderosas, nos dão a resposta definitiva até para os maiores e mais insolúveis dilemas morais da humanidade.

E, eventualmente, Ramón Sampedro, o tetraplégico galego que não quis viver por obrigação, que escreveu poemas durante trinta anos, estaria ainda vivo se, antes de ter fatidicamente mergulhado no oceano, tivesse feito um seguro de vida.

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