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4.3.05

Miserere

Como não comungo, que eu alimento-me em casa - e não só, alimento-me onde posso e onde quero, independentemente de conseguir (ou não) felizes coincidências entre os verbos - não estou preocupado com a diatribe do franciscano.

Os franciscanos são uma ordem despojada, pobre, respeitável. Passeiam de sandálias na minha imaginação, sendo que o sandalame é um calçado que cheira sempre a fraca recauchutagem. Não é por ser pobre e despojada que ordem nenhuma merece respeito: o respeito de que falo não se potencia na miséria, sobretudo se escolhida.
Um franciscano não faz de S. Francisco quando quer, é quando pode. E se pode.

Este pôde. Mas pode-se quase tudo, é só por isso que este pôde. Não foi por ser ele, é porque estamos num tempo em que toda a gente pode. Isso é bom, se o clima não prejudicar a potência, que é outra maneira de definir o poder. O poder é sempre potencial, mesmo antes de ser cinético. Mas o clima influi sempre.

Admito tudo. Condenar o onanismo, o desporto preferido dos púberes, é que não. Quando o extraordinário franciscano ameaça não dar a hóstia consagrada a quem defender ou praticar a inseminação artificial, baseado no desperdício de "vida potencial" que ela acarreta (aquilo de serem precisos mais espermatozóides que os necessários "à coisa em si", que o franciscano gosta de contas certas) aborreceu-me. É estúpido.

Não há maior desperdício de "vida potencial" que o que acontece na adolescência. Ou seja, aquilo passou a ser com o meu filho mais velho. E ele merece mais respeito, mesmo de qualquer franciscano entusiasmado pela sua miséria.

Miserere. Pode ser belo, o horror. Visto com os óculos grossos dos que encorajam a penitência dos outros, como se ali arranjassem forças para justificar a sua.

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