blog caliente.

2.2.05

A cartilha

No pior sentido possível, foi, dos três, o Portas que mais dificultou a tarefa à Judite de Sousa. Ensaiado previamente para dar não respostas (a sua especialidade retórica), apostou na desconstrução sistemática das perguntas e dos conceitos. Com sucesso: não respondeu a rigorosamente nada do que lhe foi perguntado e usou, até ao limite do patético, o argumento de que "não é comentador dos outros líderes políticos" sempre que qualquer resposta possível lhe fosse incómoda. Parecia inseguro e desconcentrado, no início. Pausas a mais, para quem nos habituou àquele discurso redondo e sinuoso dos compromissos honrados, dos parceiros fiéis e dos ministros excelentes, com as reticências da comparação subliminar com a escalada de asneiras do tal parceiro a quem é fiel. Com o evoluir da conversa, recuperou o sangue frio e acabou por oferecer a quem viu o show cacarejante, de olhos fixos e gesticular exuberante, do democrata-cristão que defende a iniciativa privada sem nunca esquecer a promoção da solidariedade social.

A dada altura, defendeu a certificação dos manuais escolares e a possibilidade do seu reaproveitamento pelas famílias. "Eu herdei os livros do meu irmão!", disse. Talvez, mas duvido. Parece-me mais provável que tenha aceite ficar com eles em troca de uma pasta num possível, embora remoto, futuro governo.

Reparei no corte de cabelo, a ver se era tipo "risca cada vez mais abaixo, a ver se tapa", como notou o besugo. Mas não, o problema não é com a risca, que hesita, aliás, em decidir-se a ir de uma vez para o meio, à Richard Clayderman. O problema é que a testa do Portas está a crescer muito.

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