Madurezas de besugo
Já conhecia os colegas, já os tinha ido ler, mas isto aqui é um blogue em que as batas são minoritárias. Isto, por um lado. Por outro lado, tiram-se ao vir para aqui. As batas. A bem dizer, a bata. Agora só eu é que uso disso, aqui.Vão passar ali para o lado dos "linques" logo que a Lolita entenda, que isto de as minhas sugestões serem quase ordens durou só um dia: foi quando eu disse bem do Baía, do Mourinho e da Foz Velha. Parou logo aí. Eu depois falei sobre o que penso dos advogados e do Pinto da Costa, tive um simulacro de esquecimento e, evidentemente, parou-me a festa, acabou-se-me o estado de graça. Eu tenho de ter cuidado com o que escrevo, porque há uma atracção quase magnética entre as teclas e a ponta dos meus dedos, o que faz com que algumas das palavras que uso pareçam "hímenes". Boa piada? Fracota. Bom.
Isso dos genéricos, que os colegas vêm abordando com alguma frequência, é terreno pantanoso. Para nós, médicos.
Eu explico: os medicamentos genéricos são, geralmente, mais baratos. Isso são. Certo? E o Infarmed, que podia chamar-se outra coisa, mas chama-se assim, assegura as bioequivalências. Isso mesmo, entre genéricos e os medicamentos de marca. Ou seja, garante-nos, esse tal Infarmed (um novo para o Boavista? sei lá...) que são iguais em eficácia. E que os medicamentos de marca são, geralmente, mais caros. Isso são. Certo até aqui? Bom.
Estou sempre a dizer "bom". Mau. Um discurso sempre igual dispersa as cabeças leves de hoje. Eu não jogo playstation, mas admito que algum dos colegas se sinta, entre urgências, encantado com a maquinaria dos jogos. "A jugar!, que este fala muito e daqui a nada desligo!"
Mas eu centro-vos, colegas.
Anda aí uma campanha assanhada sobre Coversys e outros "prys". E outras coisas, olhem as estatinas, que são tudo menos estáticas.
Os cardiologistas andam a participar muito nisto, o que se entende: os cardiologistas, lá nos sítios onde estão amontoados, que é onde há mar, acotovelam-se. Como se acotovelam, têm tempo para isto. Nos sítios onde não se acotovelam, onde não há mar, onde têm menos tempo para estes estudos de "prys", não fazem estes estudos: vêem e tratam doentes e aspiram, desgostosos, a estudar "prys". Mas compensam a frustração de não estudar "prys" com vantajosas clínicas privadas, daquelas boas, em que "eu faço-te um ecocardiograma, vais ali pagar, e agora vai ao teu médico internista, lá no hospital, que te medique, que eu é mais ecos, aqui, e umas fibrinólises, se for lá na choça". Convém dizer que o eco é mais bem pago que a fibrinólise. E dá menos chatices, os tipos fazem menos arritmias e a gente fica contente pelo cardiologista que, assim, deita-se mais cedo. Na choça (no hospital) é sempre mais cansativo, foda-se. Um cardiologista também tem coração, com feixe de His e tudo. E válvulas.
Bom, isto para lhes dizer, aos Colegas, que façam o favor de fazer do "Lasix" uma excepção. Não me lembro agora de mais nenhum genérico que seja pior que "la pure et chère mollecule originale... do que quer que seja".
O "Lasix" faz-nos mijar edemas agudos, os genéricos são quase todos "Nacqua". Água. Eu, um dia, tabalhava numa unidade coronária daquelas em que a enfermagem é simpática, e meteram-me, as rafeiras, duas ampolas de "Lasix" na garrafa de água. Colegas: eu ia-me liquefazendo e, até hoje, não me lembro de pila mais desgostosa que a minha, sempre ali a deitar um líquido cada vez mais transparente e inodoro. Passei a noite com ela na mão, a verter-se de desgraceira! Com genéricos dormiria tranquilo, mijando-me na cama, quanto muito. E pouco! E só daria conta de manhã, perplexo!
Mas esta história acaba quase no "Lasix". Certo? O resto é "marketing". O "marketing" é a profissão dos panascas que hão-de sobreviver a tudo, porque são os únicos patifes que vivem de se vender e têm sangue de barata. São piores que as putas por isto: são os sucedâneos dos chulos. Um chulo de hoje, faz o marketing das suas putas. A puta, qualquer puta, limita-se a fazer o costume.
Bem vistas as coisas, o chulo também: só mudou de nome e frequentou um instituto qualquer, daqueles de média baixa à entrada e, à saída, dizem-lhe "sai lá, vai lá, andor, venha outro canhão". E ele sai e vai chular. Não os abatem.
Tem estado frio.
Receitem genéricos, bolas! São bons e mais baratos. E evitam irritar-me. Isso da evidência científica, vinda da pena dum médico, caramba: parece-nos. Não é? Parece-nos mesmo.
E, depois, discutimos estas coisas com outros que pensam nestas coisas, também, e parecem-nos cada vez menos coisas. E ficam a parecer-nos meia-dúzia de coisas. E a essas, depois, a gente consegue defendê-las, porque entretanto já pensou nelas como se não fosse dono de verdade nenhuma só porque faz aquilo que os colegas chamam "prescrever" e eu chamo "passar receitas".
E correm risco ainda mais sério. Conhecem o Trenguices?
Não? Bom, andam desatentos. Ponham-se a pau.
Os colegas correm o risco supremo de terem à perna (como eu tive, até me explicar muito bem), o nosso comum amigo Trenguices, um boticário. Olhem que os boticários costumam saber de remédios. Podem não saber de doentes, mas de remédios sabem. Nós também sabemos, mas eles sabem um bocadinho mais. É como nós de doentes, estão a ver como tudo se compensa, tudo se junta?
Por isso é que é bom discutir com eles. Eu fiz parte, durante 4 anos, da comissão de farmácia e terapêutica do meu hospital. E era um gosto discutir com as farmacêuticas: sabem, geralmente, do que falam.
E, se o Peliteiro não é nosso amigo comum, a culpa há-de ser dos colegas, que ainda devem ser novinhos. O que não é mau, isto de ser novinho era bom, que eu lembro-me.
Mas nota-se de caraças ao escrever sobre coisas que exigem madureza.
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