O beco
Há dias atrás, tentei explicar possíveis razões que levariam, por exclusão de partes, um eleitor desencantado com o espectro partidário a votar no único partido que parecia manter-se à margem da actual travessia do deserto que nos é oferecida diariamente pela encenação própria de qualquer campanha eleitoral, mas mais patética do que nunca nesta que já se iniciou, aliás, apenas oficiosamente.A ser verdade o que me contaram, o debate entre Jerónimo de Sousa e Paulo Portas - que não vi - nunca devia ter acontecido. O líder do histórico Partido Comunista concordou pelo menos três vezes (e isto tem qualquer coisa de místico) com as afirmações do Portas e desculpou-se, no final, por inadvertidamente se ter dirigido ao adversário sem o tratar por "xôtor". Dificilmente consigo imaginar algo de mais bizarro do que pensar num líder de um partido estruturalmente de esquerda, avesso a compromissos políticos ou a coligações de oportunidade, sem uma ponta de engenho para escalpelizar argumentações políticas de adversários posicionados no preciso lado oposto das ideologias. Faz muita falta a retórica, ainda que demagógica: há momentos críticos em que só a demagogia aponta a saída. E, depois, há aquele embaraçoso servilismo dos "xótores", tão impróprio a quem critica a estratificação de classes. Eu admitiria, em face da ausência de alternativas, votar num partido comunista rígido mas coerente, apesar da sua obsolescência. Não num partido comunista frouxo e descaracterizado, que pede desculpa e se intimida com putativos bem falantes.
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