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30.1.05

Perteguêzes de Pertugale

Herman José pintou-se, há tempos, de loiro fósforo. E flamejante se mantém, o homem. E eu penso que ele pode fazer aquilo, e até mais que aquilo. Cada tipo deve poder fazer consigo o que quiser desde que não chateie, não cheire mal, nem peça subsídios. Nem decida fazer pedagogia.

Eu explico isto da pedagogia: quem decide subverter-se, a menos que tenha um exército rebelde por detrás (Fidel tinha, mas também não se limitou a dizer caralhadas, a rodear-se de actores feios desempregados e a pintar a trunfa), pode e deve fazer isso, subverter-se. Mas sem tentar subverter os outros. A pedagogia não é uma ciência acessível, é a suprema arte da subversão. É assim mesmo. Quando não, o Marco Paulo doutorava-se "onoriscauza" por Bedford. É uma espécie de Ford Transit, mais para gitanos. E quem quer fazer pedagogia deve apresentar-se despido de tudo que seja ornamento, uma espécie de teixo no inverno.

Hoje, Herman, levou lá, ao programa que tem, aquele neto do Manoel de Oliveira, o que é actor. O que parece o João Baião enquanto jovem, até na belfice. Aquilo vê-se-lhe ali um grande talento, mas eu sou chato. E, em sendo chato, rebolo de gozo sempre que vejo elevar pinderiquice.

Muito bem, admito. Manoel de Oliveira, quando lhe dá para empunhar a máquina fotográfica (VHS, slow-motion, still slower, stop, keep it stopped...stilll...still, bolas isto é outra coisa!), telefona sempre ao Cintra (Luís Miguel Antigo e Sempre Igual Cintra) para ser o actor principal da fotomontagem e, depois, vai ao rol genealógico que tem lá em casa, circunspecta-se e diz, enquanto relê histórias do Tico e do Teco, "hum... hoje vai o neto!". E escolhe o neto. Mas podia escolher sobrinhos. Só em sobrinhos, Manoel deve-nos 617 filmes! 990 fotogramas. "Screenshots". É o que ele faz. Um Lasquinhas.

Só em netos, vai ser uma data de documentários. Haja tempo.

Oliveira é o caso mais antigo e conhecido de falta de talento desde que morreu o ponta-de-lança suplente do Sacavenense, em 1926. Começou o estado novo e, já nessa altura, Oliveira gostava de carros de corrida. Isto é estranho. Duvido que Alain Prost, o melhor piloto de fórmula 1 de nariz torto que, algum dia, comeu as princesas do Mónaco durante um "opus ensemble", caso se viesse a dedicar à arte cinematográfica, fizesse merda tão pestilenta como este mestre vai fazendo. Uma colonoscopia de Oliveira faz falta ao país, mas musiquem aquilo de forma inodora.

Não tem talento. Tem idade. Quando morrer façam-lhe um busto. Pensavam que era um broche? Isso põe-se na lapela. Eu sei escrever capela, não brinquem.

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