Estar aqui
"First Youth". Oiçam. Acalma e seduz-nos, a beleza dos sons leves. Sequências perfeitas de infantis, o acompanhamento em baixo a pedir que se vá "lá acima".
A beleza é, geralmente, fácil. É que a beleza realiza-se quando consegue espalhar-se, como pó de estrelas, sem se impor com o estrondo de trombetas e o espavento de grinaldas. À noite, então, é cansativo escutar tronitruares de bigornas e de bombos. Festas juninas são dos outros.
Oiçam. Começa com uma toada de xilofones, como se fossem girassóis. Depois, a flauta e as cordas, enternecem. Uma harmonia de canção de embalar em construção desliza ali. A seguir, faz-se uma pausa e o piano amadurece-nos. Em crescendo, com os metais a gemer, o dia sobe. Há sol, há calor e dádiva. Já não há "first", já não há "youth". Há a reciprocidade enleante da melodia que celebra a vida no seu estado de caminho, andando sempre, sempre a tentar dançar a toada que nos vão dando.
Depois, desaparece baixinho, depressa, como quem se apaga, mas sem ser depressa demais. Sem ressentimentos, sem apoteose. Não troveja nunca.
Uma pequena melodia, sem ser pequena demais, é uma melodia que pode ter o tamanho certo.
Devia ser sempre assim, sem sobressaltos.
A fotografia é da Lolita. Mas ela deixa-me usar os olhos dela enquanto gasto os meus ouvidos, aqui, no meu sossego.
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