blog caliente.

1.2.05

Intervalo para esclarecer evidências

Ter um blogue significa possuir um blogue. Significa ter o poder de fazer dele o uso que se entender. Falar ou não falar. Criticar ou não criticar. Aceitar ou não aceitar críticas. Gostar de comentários ou prescindir deles. Aderir às polémicas que bem entender. Escrever como quem dita imperativos de comportamento, ainda que ninguém concorde. Dizer mal da vida. Dizer bem da vida. É esta coisa intangível, feita à medida de quem o criou e de quem o alimenta. Um blogue é, de facto, exactamente como qualquer outra coisa susceptível de ser possuída. E pertubar a posse de um blogue é algo de juridicamente censurável mas, mais do que isso, é moralmente sujo. Não se esqueçam, eu sou jurista. À perturbação da posse chama-se esbulho. E eu queria falar de esbulhadores.

É fundamental que quem escreve num blogue saiba estar à exacta altura da liberdade (e consequente responsabilidade) de escrever em público e de escrever (se se quiser, no pleno uso dessa mesma liberdade) sem se identificar. Torna-se, por isso, fácil de entender que só as pessoas íntegras deviam poder escrever num blogue. Devia ser constituída uma comissão iniciática, ajuizadora da qualidade moral dos candidatos a bloggers, que nos assegurasse que os tontinhos não seriam admitidos. Ou que, em alternativa, criavam o seu próprio blogue que ninguém se daria ao trabalho de ler. É Kant, o pai (um dos pais, enfim) do racionalismo, que nos ensina isto, até a quem não descubra sozinho: ser livre é ser condicionado, é saber fazer escolhas livres. Nem toda a gente sabe. O esbulhador, esse, não sabe e está muito longe de o saber.

Às vezes, enganamo-nos e confiamos o uso das nossas coisas a quem não sabe honrar essa confiança e que, quando damos conta, se abandona ao talento maior para a conversinha pequena. Aquela conversinha pequena e tonta, típica de corredor de repartição, unicamente destinada a inquinar os que lhe fazem sombra intolerável. Cultivada por aqueles que, afinal, nunca dão a cara por coisa nenhuma. Pessoas dispensáveis, até quando nos sentimos pacientes para ser dóceis com os que vivem agachados.

Isto tudo, apenas para dizer o seguinte: quem escreve neste blogue honra tudo o que o aqui diz. Eu garanto. Garanto, também, que nunca ninguém que aqui escreve, salvo rara e esbulhadora excepção, se envergonha do que aqui escreveu. Quem sentir curiosidade de vir aqui ler, seja ela mesquinha ou elevada, que nos leia na certeza de que cada palavra, frase ou pensamento lhe será repetido de viva voz, se assim nos for solicitado. E, claro, se demonstrar ter interesse legítimo.

É esta a nossa linha editorial. Obrigada aos leitores e, até, aos circunstanciais curiosos. Aos esbulhadores, cuidado. Há sempre a possibilidade de serem surpreendidos com uma acção de reivindicação da posse. Não se esqueçam, eu sou jurista.

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