Pintar de novo
Quando Pimenta Machado, há uns anos (a propósito duma coisa qualquer que já não me lembro), afirmou ser perfeitamente possível à verdade de hoje tornar-se, amanhã, grossa mentira, foi imensamente glosado. E gozado.Ainda hoje, no mundo futebolístico (a par daquela pérola do "porco a andar de bicicleta", saída da boca dum árbitro), a afirmação de Pimenta Machado é cansativamente citada, quando se quer ilustrar uma troca-tintice qualquer.
Pimenta Machado, que lá terá os seus problemas, não vem ao caso senão pela frase que disse em tempos. E, repare-se, encarada na sua singeleza, trata-se duma frase humilde e sábia. Condensa a própria essência da evolução, do conhecimento. Assegura a possibilidade duma nova "teoria heliocêntrica", eventualmente. Pára, besugo.
Mas, se não me recordo das circunstâncias em que Pimenta Machado se saiu com aquela frase, sei perfeitamente por que raio me lembrei de José Sócrates, ao pensar no assunto.
É que, de facto, lembro-me das circunstâncias em que Sócrates se manifestou, ontem, contra a cessação dos chamados "benefícios fiscais". E conheço, também, o enquadramento que o leva, hoje, a encontrar-lhe menor perversidade. Ou, mesmo, alguma virtude.
Não estão em causa os benefícios fiscais, evidentemente. São conjunturas que me davam jeito, porque tenho a sorte de poder beneficiar delas, apenas isso. Não são um direito meu, muito menos um direito fundamental. Se acabarem, acabaram.
Direito meu, e fundamental é este: poder perguntar a José Sócrates que raio o fez mudar de opinião, ouvir-lhe a resposta e, eventualmente, analisá-la. E, se for perfeitamente claro que nenhum dado novo, nenhum revolucionário conhecimento entretanto adquirido, esteve na génese da cambalhota pensadora do senhor engenheiro, é direito meu chamar-lhe "troca-tintas", nem que seja por interposta cruzinha colocada fora do sítio que ele mais gosta.(*)
(*)Já é a segunda ameaça de "nega" que faço ao senhor engenheiro, em poucos dias. Eu sei que isto o preocupa pouco, mas a mim faz-me bem.
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