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13.1.05

Os Gallos do cinema

Noto, entretanto, que o besugo entrou em força no mundo da crítica cinematográfica. Na sua estreia, escolheu o cinema de autor para tema da sua inspirada verve. Estou, porém, em crer que o insólito Barney, mais a sua obtusa sequência Cremaster, não passam de prodigiosas invenções besugais, criadas apenas para que ele possa dar largas ao seu cepticismo (para não dizer desprezo) face ao cinema que ele chamaria vagaroso. Mas o besugo ainda há-de falar mais do Manoel, não duvidemos disso nem por um segundo.

Baseando-se no trailer do filme, o besugo fala, também, do Brown Bunny do Vincent Gallo. E do Gallo propriamente dito. Excelente crónica! O besugo acrescenta ao filme aquilo que poderia tê-lo tornado pelo menos tão interessante como a colonoscopia do Ebert. Eu explico: na versão do besugo, o Gallo vai comendo algumas tipas enquanto viaja naquela espécie de furgão. Na versão do besugo, o Gallo convence a Chloe a mergulhar na felação. Na versão do besugo, o verdadeiro amor do Gallo perdeu-se para sempre. Ora bem: estas - ligeiríssimas - alterações ao guião seriam as suficientes para que o Brown Bunny passasse a ser um êxito de bilheteira, como sucedia há uns anos atrás naqueles "serões" do Teatro Sá da Bandeira. É que, na versão "Gallo", ninguém come ninguém e a Chloe, uma ex-amiga do Gallo, é suficientemente pró-activa para tomar as suas próprias decisões. De forma perfeitamente desinibida, é certo; mas a verdade é que nenhum trolha da Areosa vai ao cinema para ver duas horas de road-movie com dez minutos finais de hard-core. É mau negócio.

Concluindo: o besugo tem, afinal, um cineasta dentro de si. Seria, possivelmente, um Gallo mais espevitado e com um sentido comercial substancialmente acrescido. Ou um Manoel, mas em mais Obikuelu. Talvez até um Bergman mais meridional. Ou um Lars Von Trier mais expansivo.
Aguardo, com muita expectativa, as próximas crónicas. Eu cá estarei, de teclado em punho, pronta para a defesa da sétima arte.
Ele que se atreva a dizer mal, por exemplo, do Hitchcock. E eu até consigo imaginar como...

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