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13.1.05

Talentos pujantes (parte 1)

Vivemos tempos de grande actividade política, com vários pensadores (e, mesmo, tradutores de Petrarca, que acham Portugal "cansadote") dedicando as férteis meninges à análise dessa problemática.
Uma problemática, para quem não sabe, é um conjunto de chatices que, filtradas por certas meninges, conduzem àquilo que ficará conhecido nos anais da História (e eu, aqui, digo anais porque esta palavra há-de acabar por vir a propósito) por solucionática. É um tema inesgotável. Cada conjunto de meninges, cada solucionática. E há-de haver sempre quem se dedique a estas coisas de forma entusiasmada. O que é bom, porque assim eu posso vir aqui falar de Vincent Gallo.

O Vincent Gallo, aparentemente, é este tipo:


Lamento, mas parece que ele é mesmo assim.
Bom. Vincent Gallo é, entre outras coisas, produtor, realizador e actor. E bastante feio, dirão os senhores. Bom, pode ser a fotografia que não o favorece, eu já vi Paulo Portas e mesmo Jorge Cadete pouco favorecidos em algumas fotografias. Sejamos benevolentes.

Em 2003, Vincent Gallo realizou e protagonizou um filme que se chamava (e chamará ainda, a menos que a película tenha sido, entretanto, incinerada) Brown Bunny.
Há quem diga que se trata dum filme fabuloso, embora diversas opiniões refiram que aquilo não passa duma espécie de roteiro da pila de Gallo pela América profunda. E é sabido que a profundidade da América é significativa.
Adiante.

O certo é que eu vi um "trailer". Vi mesmo. Ora, o "trailer" pareceu-me longo e pastoso, o que é raro acontecer-me em "trailers".
Mas, enfim, também li uma espécie de resumo da trama. E é mais ou menos isto:

Bud Clay (é o nosso Gallo) é corredor de motocicletas e anda às voltas num circuito qualquer, em New Hampshire. Depois, tem de viajar 5 dias até à Califórnia, onde vai participar noutra corrida. Pelo caminho, sempre assolado pela memória do seu verdadeiro amor (uma gaja qualquer que o deve ter deixado quando lhe observou a frontaria), vai comendo algumas tipas que lhe aparecem "on the road". Eventualmente desesperadas, ou mesmo cegas.
Durante a longa viagem, Gallo consegue, mesmo, convencer uma rapariga chamada Chloe Sevigny a felá-lo (mesmo à séria, foi a própria actriz que o afirmou, em várias orgulhosas entrevistas) e, aparentemente, não se terá passado mais nada de relevo.
Claro, excepto um corte que tiveram de fazer na cena de abertura: a não ser esse corte, os primeiros vinte minutos desta fascinante película mostar-nos-iam o bom do Vincent a guiar a motocicleta através da América. Não se sabe se terá sido o próprio Manoel de Oliveira, depois de ter murmurado "bolas, assim também é demais!" , a sugerir o corte.

O que se sabe é que um senhor chamado Roger Ebert, que é (entre outras coisas) crítico de cinema, afirmou sobre a obra prima de Gallo que "it was the worst movie in the history of the Cannes Film Festival" . Ofendido, Gallo argumentou que Ebert não passava "de um porco gordo com o físico dum traficante de escravos". Ebert, no entanto, acabou por ter a última palavra nesta interessante discussão conceptual, sustentando que um filme da sua colonoscopia, se um dia, eventualmente, viesse a efectuar uma, seria mais interessante que o filme de Gallo. Ora, aqui está: "anais" acaba por vir sempre a propósito, eu sabia. E tinha avisado.

Bom, para situar melhor a amplitude do problema, Ebert é assim:


Tudo indica que Gallo, mantendo embora o aspecto que vos mostrei ali acima, conseguiu participar num outro filme, que se vai chamar "Mary" . É produzido por outra pessoa, e ainda bem, até porque parece que aquilo vai meter uma paixão assolapada entre Gallo (no papel dum seguidor de Cristo) e Maria Madalena. Oxalá se temperem na amostragem "gráfica" das habilidades da senhora, para não termos problemas adicionais com o Priorado do Sião.

Para terminar, uma fotografia de Chloe Sevigny, a preto e branco. A tal do Brown Bunny. Não consegui saber se foi tirada antes ou depois mas, presumo, não foi durante.


Evidentemente, estou de acordo: é uma pena.

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