Carta a Dupond
Pois é, você andou certeiro, Dupond. Sobretudo com aquilo de a extinção das SA ser, sem dúvida, uma "condição necessária mas não sei se suficiente" para eu votar no engenheiro da pinta.A ignorância, neste caso particular da minha mentação, é tanto sua (o que tem toda a lógica, você não está dentro de mim, cruzes-canhoto!) como minha. De facto, não sei se bastará a Sócrates prometer-me que enfiará Correia de Campos, na melhor das hipóteses, numa subsecretaria dos assuntos rurais dispiciendos, entregando a Maria de Belém Roseira a possibilidade de implementar os CRI (Centros de Responsabilidade Integrados) que preconizou no seu ministério (e que ficaram na funda gaveta dos diários da república) para eu lhe entregar o voto.
Você bem vê, eu, votos, só tenho um, não o posso desperdiçar. Dava-me jeito (e Sócrates ouvir-me-ia mais, certamente) ter aí uns 50 votos para depositar na urna, como acontece nos clubes de futebol, sobretudo no Benfica (julgo que nos outros também, mas sigo sempre mais os actos eleitorais dos lampiões, por motivos variados: são os únicos que dão na televisão, há sempre porrada, há lá também o Barbas, gritam "ècèlebê"... etc).
Tenho, de facto, de pensar.
Anotei a sua sugestão para votar no Bloco. É uma ideia. Mas eles não têm, os "bloquistas", mantendo-nos na senda dos "programas para a Saúde", um trunfo sequer parecido com os CRI de Maria de Belém. Que apoiou Manuel Alegre, aliás. O que não a impede, espero eu, de poder merecer um olhar inteligente por parte de Sócrates quando for a altura de distribuir pelouros e competências. Pense comigo: sendo a extinção das SA, para mim, uma condição necessária, não é suficiente acenarem-me com o regresso ao sistema público que me escravizou a vida para me fazerem, sequer, abanar a rafeira cauda de besugo. Nada disso, você nem pense. Nem o sentido do meu voto se vai esgotar nas questões da Saúde, evidentemente.
Mas já que falamos nisto, vejamos outro caso: o do PC.
No caso do PC, que também parece afirmar a extinção das SA na saúde, receio lembrar-me dos tempos do PREC, em que colegas meus (bom, eu ainda andava no liceu, mas pronto) ficavam a ver utentes horas e horas a fio, às vezes de pistola apontada à cabeça, enquanto houvesse um utente com frieiras ou falta de limpeza congénita na sala de espera. A um tio meu, que era otorrino num hospital da Estremadura, chegou uma auxiliar a sugerir-lhe que limpasse ele o consultório, se o achava uma esterqueira. E quando ele, vagamente irritado, lhe pediu a vassoura e a incumbiu de fazer, enquanto ele se dedicava à faxina, as consultas que havia, ia-lhe caindo em cima a fúria da populaça.
O mais assustador é que consigo imaginar Louçã e suas Louçanettes a fazer o mesmo. E pior! Você já imaginou o meu pesadelo? Ana Drago a querer, por força, explicar-me coisas? Fernando Rosas a querer explicar-me tudo? E, pior que isso, Luís Fazenda a obrigar-me a dar-lhe explicações? Tudo sob o olhar atento de Louçã, que pairaria, talvez não de pistola, mas a ler-me o pensamento?
Louçã, aliás, já que falamos nisso, é mais parecido com Paulo Portas do que que com o seu correligionário Miguel: ambos são líderes dos SEUS partidos. Isto assusta um bocadinho, não assusta?
Como não vou votar, seguramente, no PSD (nem em partido nenhum que tivesse Miguel Relvas como secretário geral, tem voz de quem acabou de sair duma estadia de dezoito anos numa arca de azeite) nem no PP (quase pelos mesmos motivos, mas ainda mais intestinais), resta-me uma de duas coisas. Ou mesmo ambas:
1 - Continuar a sonhar que o LNT consiga fazer luz na cabeça de Sócrates, emprestando-lhe uma aura que supere o seu gosto quase "mesmérico" por citações e por penteados "britt-pop".
2 - Continuar a cismar nestas coisas de "onde hei-de eu deitar o voto?", contando com o Dupond, evidentemente, para me iluminar o caminho. Mas até aqui, desculpe lá, você não se aplicou, a sua candeia está fosca, seu desleixado! Ou então sou eu que já não vejo bem.
Um abraço.
P.S. - Como exercício, equacione aí um ministério para Nuno da Câmara Pereira. Eu sugiro-o para futuro subsecretário de estado dos assuntos do fado mal cantado por gajos baixinhos, mas veja lá se o encaixa melhor que eu, lá no vosso próximo governo sombra...
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