Precisões da mesa dos outros
Ela estava ali, com ele. E, quem os visse, não teria nenhuma dúvida que assim era, que era ela que estava ali, com ele. E que a precisão era toda dele, que era ele que precisava que ela estivesse ali.Quem os visse perceberia, também, que ele sabia que ela estaria ali de qualquer maneira, precisasse ele ou não da sua presença. E que ele gostaria sempre da presença dela, precisasse ou não dela.
Eu estava na mesa ao lado e vi-lhes os olhos. Mas tão fugidamente que não lhes espreitei a alma toda, nem ela se desvenda toda na cor duma íris, ou no diâmetro duma pupila.
É por isso que falta qualquer coisa a esta pequena história. É que foi escrita nos retratos fugazes dos olhares dos outros e há sempre coisas que nos faltam, quando contamos as histórias dos outros sem os conhecer senão da penumbra que envolve, sempre, a mesa do lado.
Falta saber, por exemplo, se ele estaria ali, com ela, se fosse ela a precisar que ele estivesse ali.
Falta-me saber isto a mim, pelo menos, que lhes vi os olhos só de esguelha e disfarçadamente.
Mas ela deve saber mais coisas, porque era ela que o olhava no fundo dos olhos, não era eu. E, como ela lhe sorria, esta história há-de ter um final feliz. Mesmo que nunca saibamos, que as histórias dos outros são mesmo assim: nossas enquanto os outros deixam.
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