blog caliente.

29.12.04

Massas acríticas

A Ucrânia e a política ucraniana são anacrónicas, do ponto de vista de um europeu. A manifestação dos apoiantes de Iuschenko nas imediações da sede do Governo, eficaz a impedir Ianukovitch de retomar as funções de primeiro ministro, é sintoma de uma nação viva, auto-determinada e auto-mobilizadora, embora (este é o senão) permeável à demagogia política. É, provavelmente, a sedução pela independência e pela democracia que move o povo ucraniano.

Para se ser participante é fundamental saborear-se a sede de mudança. E sede, aqui na nossa confortável e indolente Europa ocidental, é algo que há muito ninguém sabe o que é, porque há muito tempo que ninguém tem sede de coisa nenhuma. Nem sequer nós, os periféricos portugueses, nós que ainda padecemos da hesitante e atordoada macro-estratégia de desenvolvimento do país que há décadas nos perturba os planos. Não há povo unido, não há assalariados em luta, não surgem, sequer, dois ou três desempregados reivindicando para que os seus subsídios sejam pagos antes do fim do mês/ano.

Cá, quando algo que prejudica muda, muda apesar do silêncio dos prejudicados. A qualidade da massa crítica da nação portuguesa tem, na verdade, dimensão e profundidade semelhantes às minhas quando visito um blogue escrito em japonês.

A isto, é corrente chamar-se o mundo civilizado.

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