blog caliente.

19.1.05

C'est nous, les cons



Eu não percebo nada de cinema, nem de outras artes. Deve ser porque são muito difíceis.
Mas sei do que gosto. Não é sempre da mesma coisa, mas não vario muito de gostares.
Revi "Os compadres", o meu irmão trouxe-me o filme a casa, tirado dum sítio qualquer, sem legendas. Eu sei falar francês, tanto que gosto de Eça. Esse mesmo, o que se esforçou sempre por fazer de conta que preferia os ingleses, entre galicismos. E de Hugo. E doutros.

Gosto das musiquetas francesas. Um dia sonhei que me perdia em França, uma França pequena, à minha medida, só coisas que eu entendesse bem, de que gostava. Ficava melhor se escrevesse "de que gostasse", eu sei, mas esta verdade que eu digo é mais um pretérito imperfeito que um condicional. Era uma França musicada por um romeno, Vladimir Cosma. Que ironia sublime, há países e coisas que baralho tanto!

Querem saber a história, ao menos quem não viu? Eu conto, de qualquer maneira. Vantagens de contar aqui: mesmo que ninguém nos leia escrevemos com a ideia que sim. E nunca saberemos se sim, se não.

É a história dum homem que tem um filho que fugiu de casa. A mãe, Christine, perante a inoperância dos meios legais (a polícia, o marido calmo e passivo) resolve telefonar a dois ex-amantes. Encontra-se com eles, um após o outro, e conta-lhes uma mentira: que cada um deles é pai do filho que lhe fugiu. Ambos a conheceram pela mesma altura, relações que passam.

Cabe aqui uma espécie de "parêntesis de besugo":
Mas, no fundo, passam? Não nos ficam todas? As relações acabam, mesmo? Ora! Por muito que nos custe, não. Nunca acabam. Mudam, apenas. Mudam-se. Ficamos nós, o tempo e nós. E sempre os outros, cambada de invasores do nosso tempo.

Bom. Ambos os antigos amantes vão procurar o filho que fugiu. Encontram-no, entre gags simples e pueris. Trazem-no de volta ao pai, ao que ficou. O pai ficou, mas é o pai. O puto tem um lampejo de encantamento, no meio da competição que se criou entre os falsos pais "para ver quem é que é mesmo o pai", quando convence cada um dos dois que "tu, sim, falei com a mãe, o pai és tu". Ambos ficam naquela estupidez boçal de que só um homem é capaz, aquela parvoíce de, no fim de contas, (contas?) sermos nós, aquela parvoíce que nos desvanece antes de se desvanecer.

O puto regressa ao pai, ao que ficou. E à mãe, que é do que trata a história. Que se resume em 26 segundos do filme: o miúdo acaba por dizer o inevitável. "Quer dizer que a minha mãe, por essa altura, andou com três meqcs...". É Depardieux que lhe responde: "...faut pas juger les âutres, p'tit con!"

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